Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Governo libera margem para locadoras lucrarem

Abre-se a porteira para os grandes compradores de veículos fazerem a feira

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Depois de desaguar R$ 500 milhões no programa de descontos na compra de carros populares, o governo resolveu injetar mais R$ 300 milhões na jogada. O considerável aumento de 60% no orçamento, dado no último dia 30, veio com uma pequena observação: sem restrição a grupos.

Quando liberou a primeira rodada, a Medida Provisória assinada pelo presidente Lula (PT) no dia 5 de junho proibia por 15 dias que as vendas com desconto fossem feitas para empresas. Agora, na segundada rodada, uma portaria assinada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (no papel de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) acaba com isso.

Assim, abre-se a porteira para os grandes compradores de veículos fazerem a feira. O tamanho das encomendas de locadoras como Movida e Localiza já permite um preço "diferenciado", como dizem os vendedores. Com a nova regra, ficaram com a faca e o queijo na mão para irem às compras e aumentarem suas margens.

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Foto do pátio da agência da Localiza nos arredores do aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP) - Keiny Andrade - 24.mar.2023/Folhapress

Assim como o governo, o tempo tem sido bondoso com essas empresas. De 2020 a 2022, a "Receita de Venda de Bens e/ou Serviços" —que é quanto dinheiro a empresa fez com suas atividades— da Localiza saltou de R$ 10,3 bilhões para R$ 17,7 bilhões. No caso da Movida, o pulo foi de R$ 3,8 bilhões para R$ 10,1 bilhões.

Por mais que nós ainda as chamemos de "locadoras de veículos", mais da metade do dinheiro ganho pela Movida no último ano veio da revenda de carros usados. No caso da Localiza, a fatia do setor de revendas atingiu 45% da receita total da empresa.

Nos balanços e na publicidade, essas áreas são chamadas de "seminovos" —e aqui acho que vale uma discussão semântica do termo. "Seminovo" é o equivalente automotivo a "meio grávida". Sequer existe uma definição oficial. Há quem defenda a etiqueta em carros com no máximo três anos de uso e 50 mil km rodados. Nos sites de revenda das locadoras, entretanto, encontra-se veículos com mais de 80 mil km no hodômetro e fabricação em 2018.

Ao mesmo tempo em que o programa do governo para baratear carros novos tende a reduzir os preços dos "seminovos" (por baratear carros em geral), o fim da restrição às empresas permite que elas aproveitem a "promoção" para repor os estoques dos automóveis que revenderão mais tarde, a preço de mercado.

Para isso, é importante ver quem está com dinheiro no bolso. A Localiza acaba de captar R$ 4,5 bilhões, com a emissão de novas ações, justamente com o objetivo de "expandir a frota de veículos da companhia". O aumento de capital foi anunciado entre a primeira e a segunda rodada do programa do governo.

A Vamos, que aluga (e revende) caminhões e máquinas, seguiu a onda e também emitiu novas ações na Bolsa para captar R$ 868 milhões. De acordo com anúncio da oferta —feita também no mesmo período em que o governo anunciou o programa de "desconto patrocinado" para veículos de transporte de cargas—, a destinação dos recursos prevê a aquisição de novos veículos e máquinas.

Do começo do ano até agora, as ações da Localiza (RENT3) subiram 33%. Os analistas do BTG Pactual, por exemplo, acreditam que o preço-alvo do papel —hoje negociado na casa dos R$ 68— é R$ 80. Para eles, a empresa "deve se beneficiar de uma depreciação mais baixa e uma frota muito mais jovem".

A Movida viu suas ações (MOVI3) subirem 44% no mesmo período. Para os analistas da XP Investimentos, os papéis, atualmente vendidos perto de R$ 10, têm potencial para mais do que dobrar de preço e chegar a R$ 25.

Já as ações da Vamos (VAMO3) têm, hoje, quase o mesmo preço que tinham quando chegamos a 2023, antes do programa do governo para baratear os veículos. Assim como as duas outras empresas, seus papéis têm a "compra" recomendada por diferentes casas.

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