Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos
Descrição de chapéu Governo Lula

Uma espiadinha na economia real, antes de terminar o ano

Economia manda bons sinais para 2023, ainda que um pouco abalada pelas mudanças políticas

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Acabou a Copa do Mundo. Pelo menos para nós. E antes de o ano acabar —e Bolsonaro e Paulo Guedes cederem suas cadeiras para Lula e Fernando Haddad—, é bom darmos uma espiadela na economia real, para ajustar nossas expectativas e "apostas".

Já falamos aqui sobre como investimentos em títulos privados em economias emergentes são a bola da vez para grandes bancos e gestoras internacionais. E como a economia brasileira tem espaço para surfar nessa onda, atraindo dinheiro estrangeiro de quem topa correr um pouco mais de risco em busca de ganhos.

O prêmio pelo risco tem aumentado (mais risco, mais retorno, desde que se acerte o alvo, como escrevemos aqui). Como a nomeação oficial de Haddad, nesta sexta (9), mexeu pouco com o Ibovespa, podemos imaginar que a relação "risco x retorno" da Bolsa já estava mais ou menos calibrada em relação às mudanças no Planalto. Falta saber o risco em relação à realidade econômica.

Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda, e o presidente eleito Lula falam em coletiva na sede da transição de governo, em Brasília - Adriano Machado - 9.dez.2022/Reuters

A Bolsa, convenhamos, saiu de moda neste ano, quando consultamos a economia real. O número de empresas que foi buscar dinheiro no mercado de ações despencou. Até a contagem de novembro, só tivemos 17 IPOs (ofertas iniciais de ações) e follow-ons (ofertas de ações de empresas que já têm papéis circulando). Ano passado, foram 72. Em 2020, 53. E no ano anterior, 42.

Isso só mostra como a conexão entre Bolsa e empresas fraquejou neste ano. Enquanto tivermos juros nas alturas, deve continuar difícil ter novidades por lá. Como ouvi de um executivo que fez um IPO de centenas de milhões em 2021: "A janela de oportunidade para captar estava lá em 2021. Sabíamos que era cedo demais para nossa empresa entrar no mercado, mas quando chegasse a próxima oportunidade, já seria tarde demais".

Então em vez de buscar grandes novidades, é hora para traçarmos possíveis cenários para antever como reagirão as empresas que já estão na Bolsa hoje, bem como as que provavelmente vão emitir títulos de renda fixa nos próximos meses, para captar dinheiro para seus projetos.

É preciso lembrar que as maiores empresas na Bolsa, tirando os bancos, são companhias como Vale (VALE3), Petrobras (PETR4 e PETR3), Ambev (ABEV3), JBS (JBSS3) e Klabin (KLBN3).

Uma boa lente para tentar olhar o futuro de empresas desse porte vem da CNI (Confederação Nacional da Indústria). No último dia 2, a CNI divulgou seu último boletim de indicadores industriais, relativos a outubro. O que aparece por lá é um Brasil cuja indústria de transformação se mantém no patamar mais alto da história em seu faturamento real.

O emprego industrial também está perto dos recordes, voltando a subir em outubro após quedas em agosto e setembro. Em comparação com outubro de 2021, a alta é de 1%. Enquanto o rendimento médio dos trabalhadores do setor teve a quinta alta mensal consecutiva, subindo 7,6% em relação ao ano passado.

Ao mesmo tempo, a utilização da capacidade instalada (o quanto as máquinas e esteiras estão ocupadas) sustenta-se em patamar superior ao praticado antes da pandemia, com valores acima dos 80% desde março de 2021.

Em resumo: a economia real manda bons sinais para o novo ano que aí vem, possivelmente ainda pouco abalada pelas anunciadas mudanças políticas, que vêm brincando com nosso Ibovespa como um gato com seu novelo de lã.

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