Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcos de Vasconcellos
Descrição de chapéu China

Bolsa escada abaixo! Mas o pânico não predomina na Faria Lima

Decisões de grandes investidores e instabilidade na China explicam mais do que fatores brasileiros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A Bolsa rolou escada abaixo e bateu o recorde de dias seguidos em queda, com 13 pregões no vermelho. Pânico, terror e aflição no mercado financeiro? Esse não é o clima predominante na Faria Lima no momento. Vamos às explicações:

Falo em "clima predominante", porque há gente boa apostando em quedas drásticas nos próximos dias — conto mais no fim do texto. Mas não é uma maioria, pelo pulso diário do mercado.

Mulher tira foto em frente a painel que mostra gráfico com andamento do pregão da Bolsa de Valores em São Paulo
Ibovespa teve queda nas últimas 13 sessões, um recorde histórico - Amanda Perobelli/Reuters

A primeira razão para não vermos uma onda de desespero é que foram 13 quedas, mas em degraus baixos. Esses dias, somados, levaram o Ibovespa, nosso principal indicador do mercado financeiro, da casa dos 121,9 mil pontos para a dos 114,9 mil pontos. Isso significa um tombo de menos de 6%.

Fazendo um pequeno exercício de memória: de 8 a 23 de março deste ano, a Bolsa caiu mais de 8%. No mês de fevereiro, a queda foi de mais de 6,5%. Ou seja: o recorde de agora é só relativo aos dias seguidos em baixa, mas o volume de pontos perdidos ainda não é algo considerado muito relevante.

Estamos sempre em busca de explicações no nosso noticiário cotidiano para encontrar as razões das euforias e depressões da Bolsa, mas nem sempre essa relação é direta e simples (às vezes, é).

Quem empurrou nosso Ibovespa escada abaixo? O corte de juros pelo Copom? O aumento do preço dos combustíveis pela Petrobras? O noticiário sobre a economia da China? As discussões intermináveis sobre o futuro dos juros nos Estados Unidos? Exercício inútil, dessa vez. O cenário é mais importante do que descobrir qual formiga comeu a maior migalha do pão.

Posso parecer repetitivo, mas não dá para esquecer que o mercado é guiado pelos "gringos". Grandes fundos internacionais que levam o dinheiro para onde acham que vai dar mais retorno. E fazem isso em dois toques na tela do iPhone. Somos um mercado pequeno, se comparado com os EUA ou a China. Com isso, reagimos muito a esse tipo de movimento do grande dinheiro.

E os donos da grana tomam essa decisão olhando gráficos e relatórios sobre o cenário global. Bem mais do que lendo entrevistas de autoridades brasileiras ou vendo vídeos no YouTube.

Olhando o gráfico diário do Ibovespa, fica claro que ele atingiu o que os analistas técnicos chamam de "topo importante" ao bater ali nos 122 mil pontos. Em resumo, é uma barreira que ele teve dificuldade de ultrapassar anteriormente — e caiu depois disso.

Em toda a história, nosso índice só conseguiu ficar acima dessa pontuação em janeiro de 2021 e de maio a julho daquele mesmo ano. Nas outras vezes em que chegou perto, como em abril do ano passado, não conseguiu se manter e caiu até atingir o "fundo" dos 95 mil pontos, quase três meses depois.

Ao ver o índice atingir um topo desses, muitos investidores (e grandes) analisam se é hora de "realizar lucros", ou seja, vender as ações que eles compraram na baixa e, agora, colocar o dinheiro no bolso para aproveitar outra oportunidade. Sabendo da dificuldade histórica em superar a marca dos 122 mil pontos, muitos estão optando por isso. E, sim, antes que você pergunte, é como uma "profecia autorrealizada".

Por que não apostam que o índice vai ficar forte o bastante para superar a barreira dessa vez? Aí entram as explicações de juros, gasolina, EUA… Mas, principalmente, a China.

A economia chinesa está sofrendo desaceleração e algumas pontas soltas por lá geram onda de desconfiança em mercados emergentes (como o nosso Brasil). A construção civil, que corresponde a 25% do PIB da China está em queda. Com isso caem as projeções de venda de minério de ferro e aço para lá. E quem exporta isso para lá, em grande parte, somos nós.

Fachada da Evergrande
Gigante do setor imobiliário chinês, Evergrande entrou com pedido de proteção nos EUA - Aly Song/Reuters

A crise se espalha na potência asiática. A Zhongzhi Enterprise, gestora privada de patrimônio, deixou de pagar vários produtos de investimento de alto rendimento. A Evergrande, aquela gigante do setor imobiliário que gerou uma crise enorme em 2021, pediu uma espécie de recuperação judicial nos EUA, para se proteger de cobranças (na tradução literal, é um pedido de falência, mas ela não está falida — pelo menos ainda).

Essa insegurança faz o dinheiro mudar de lugar e sair da nossa Bolsa. Mas o movimento ainda é visto como "correção" por muitos gestores com quem conversei.

Há analistas que enxergam que passaremos por um longo período até que a queda se encerre, com o Ibovespa chegando até os 102 mil pontos, levando em conta gráficos e indicadores de tendência — mas não veem isso como resultado de uma grave desaceleração da economia ou crise do nosso país.

É sempre bom lembrar que quando há pânico no mercado financeiro, tem quem ganhe dinheiro, mas não costuma ser gente como você e eu. Uma carteira de investimentos diversificada tem o poder de mitigar o risco de suas economias realmente sofrerem com esses movimentos.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.