Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos
Descrição de chapéu PIB indústria

PIB no telhado, indústria no porão

Manter o país como exportador de commodities é a receita para transformar o PIB acima do esperado em um voo de galinha

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Ao mesmo tempo que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) acima do esperado surpreendeu o mercado, outro indicador mostra que estamos tentando tirar leite de pedra ao tentar sustentar o ritmo de crescimento: nossa indústria opera em níveis baixíssimos.

Estamos com o ritmo da produção industrial 2,3% abaixo do período pré-crise, em fevereiro de 2020, e impressionantes 18,7% abaixo do pico mais recente, que foi lá em 2011, nas contas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em outras palavras, nada tem sido efetivo para mudar nosso papel de exportar pau-brasil e importar produtos manufaturados. No ano passado, aliás, nossas principais exportações foram soja, petróleo e minério de ferro. As importações, adubos e fertilizantes químicos, combustíveis e válvulas e tubos.

Máquina é usada na colheita de soja em Ponta Grossa (PR); manter o país como exportador de commodities é a receita para transformar o PIB acima do esperado - Rodolfo Buhrer-25.abr.2023/Reuters

A Reforma Tributária que se encaminha tem o poder de dar uma mão para o setor industrial. Segundo o professor de direito Ives Gandra, da maneira como está posta, a reforma cobra do agro, dos serviços e do comércio uma fatia maior, para liberar a indústria desse peso.

A falta de projeções claras sobre os impactos da reforma é severamente criticada por especialistas, mas o apoio da Confederação Nacional da Indústria ao texto já deixa claro que o setor sai ganhando. A entidade tem inclusive um slogan sobre a Reforma Tributária: "É bom para você. É bom para o Brasil".

Como todo governo no primeiro ano de mandato, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também tem lançado pitadas de otimismo à reindustrialização do país. O petista alardeou recentemente a existência de um programa de R$ 15 bilhões de incentivos para renovação de maquinário.

Haddad não é um novato na política, muito menos seu chefe, o presidente Lula. Eles sabem que, apesar de a indústria estar em baixa, desagradar aos seus caciques é problemático para qualquer governo. Basta lembrar que o pato amarelo que virou símbolo do impeachment de Dilma Rousseff era parte de uma campanha da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Cabe também mencionar que uma fatia considerável da população considerada formadora de opinião viu sua renda desabar nos últimos dez anos. Uma pesquisa da FGV (Fundação Getulio Vargas) mostrou que os brasileiros mais escolarizados foram empurrados para empregos que pagam menos, já que não há vagas suficientes no topo da pirâmide produtiva e intelectual.

Incentivos à inovação e à industrialização serviriam para absorver essa mão de obra muito qualificada e, ao mesmo tempo, destrava o próximos degraus do crescimento, pensando a longo prazo.

Manter o país como exportador de commodities é a receita para transformar o PIB acima do esperado em um "voo de galinha". Aproveitar essa maior movimentação econômica e o otimismo em relação à economia para tirar alguma das travas ao crescimento da indústria parece uma boa ideia.

Existe, na Bolsa, um índice que mede o desempenho das ações mais representativas do setor industrial, chamado INDX. Do começo do ano até hoje, ele subiu cerca de 4%. O Ibovespa, principal indicador do mercado, mesmo após as recentes quedas, subiu mais que o dobro disso.

Entender, com projeções claras, os impactos das reformas e programas alardeados pelo governo poderá ajudar as ações ligadas à indústria a diminuir essa diferença.

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