Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

Crise e conflitos nos planos de saúde

As peças do tabuleiro se movimentaram, e as previsões para o setor ficaram velhas

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A margem de lucro ideal é um conceito contábil que, como toda concepção "ideal", costuma exigir criatividade para se adequar ao mundo. Fora das planilhas, a legalidade e a moralidade tendem a ditar, nessa ordem, o quanto uma empresa pode "espremer" seus clientes.

No setor dos planos de saúde, esse equilíbrio fica cada vez mais distante. No apanhado de 2023, as reclamações dos usuários contra as empresas subiram praticamente 50%, de acordo com a Agência Nacional de Saúde.

Os sinais estavam aí. Em julho do ano passado, alertei em coluna nesta Folha que o gigante da saúde criado pela fusão da Hapvida e da Notre Dame Intermédica não parava em pé. E que o plano da empresa para fazer dinheiro era "continuar priorizando a rentabilidade, mesmo que prejudique o crescimento de sua base de beneficiários".

Prioridade total à rentabilidade nos planos de saúde esbarra em riscos futuros - Eduardo Knapp/Folhapress

O problema nessa estratégia é a definição dos limites. A rentabilidade a qualquer custo, cedo ou tarde, gera outros custos.

Nesta semana, foi noticiada pelo jornal O Estado de S. Paulo que a Hapvida é alvo de uma investigação do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP), por, supostamente, se negar reiteradas vezes a cumprir liminares da Justiça e a fornecer tratamento a pacientes. O descumprimento leva ao aumento das multas impostas. A empresa diz estar apenas exercendo seu direito de defesa.

Os analistas do Citi levantaram os números: a Hapvida declara ter R$ 487 milhões de provisões para processos civis cuja perda é tida como provável. E calcula que outras ações, cuja derrota é apenas "possível" (sem precisar de provisão), custariam R$ 1,8 bilhão aos seus cofres.

A ação da empresa (HAPV3) despencou 11% de segunda a sexta, enquanto o Ibovespa, principal indicador da Bolsa, caiu perto de 2,5%. O noticiário se apressou em apontar a causa e o efeito: as manchetes sobre a investigação teriam levado os papéis à lona.

Nessas horas é bom dar um passo atrás e tentar enxergar além do óbvio. A outra empresa de planos de saúde que negocia suas ações na Bolsa, Qualicorp, viu seus papéis (QUAL3) derreterem 18% no mesmo período.

O furacão que atingiu a Qualicorp tem nome: o fundador da empresa, José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, que vendeu sua parte na empresa em 2019, com um contrato que o proibia de atuar na concorrência até meados de 2023. Depois de testar o código de ética da empresa, Júnior acaba de comprar a Amil.

A venda foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica na semana passada, no dia 17. Com crédito na praça e a história da Qualicorp em seu currículo, Seripieri assumiu R$ 9 bilhões em dívidas de uma empresa que está sangrando, mas que ele promete reerguer.

Assim, em menos de cinco dias, as peças do tabuleiro se movimentaram rápido, e as previsões para o setor, agora, ficaram velhas.

A Hapvida sabe que seus negócios dependem da reputação de sua marca junto a clientes, fornecedores e comunidades. A Qualicorp, por sua vez, entende como o aumento da concorrência pode diminuir a demanda por seus serviços e no aumento do custo da mão de obra especializada. Ambas parecem ter muito trabalho pela frente.

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