Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Urânio voa e ameaça agenda ESG

Preço do elemento chegou ao seu nível mais alto desde 2007 com corrida pela energia nuclear

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O preço do urânio chegou ao seu nível mais alto desde 2007. E isso se deve à corrida pela energia nuclear, em um mundo pressionado a mudar sua matriz energética, abandonando os combustíveis fósseis — também conhecidos como petróleo, gás e carvão.

A escalada impressiona. Hoje, uma libra de urânio é negociada por mais de US$ 103 (coisa de R$ 500), no mercado à vista. Em janeiro do ano passado, saía por menos da metade do preço.

Analistas do Bank of America (BofA) apontam que, enquanto o hidrogênio verde (outro possível substituto para a energia de fontes não-renováveis) enfrenta desafios de alto custo de produção, a demanda global por energia nuclear deve crescer rapidamente. E o preço por libra pode passar dos US$ 120 (R$ 600).

Pesquisador do Instituto de Pesquisa em Geologia de Urânio de Pequim (BRIUG, em inglês), uma subsidiária da Corporação Nuclear Nacional da China - BRIUG -9.set.22/Xinhua

A corrida do ouro, ou melhor, do urânio, acelerou no último dia 1º, quando a maior produtora do mundo, Kazatomprom, estatal do Cazaquistão, reduziu sua estimativa de produção para este ano em 14%. A empresa aponta dificuldade em conseguir os suprimentos usados na mineração.

Só que a alta dos preços acende uma luz amarela na adoção das usinas nucleares para redução da emissão de gases de efeito estufa.

A Associação Nuclear Mundial —organização que promove a energia nuclear e apoia a indústria— estima que se o preço da commodity ficar acima dos US$ 100, os custos operacionais de produzir energia nuclear serão impactados de maneira significativa. Colocando água no chope de quem busca uma mudança rápida na fonte das tomadas.

Quando falamos em escala global, é bom lembrar que o maior consumidor de energia do mundo é a China, seguida pelos Estados Unidos (cujo consumo equivale a 55% do chinês) e pela Índia (que consome menos de ⅓ da energia consumida na China), segundo dados de 2022, da Enerdata, que faz pesquisas e análises sobre o setor.

E, no ano passado, o presidente chinês, Xi Jinping, disse que o país atingirá a neutralidade de carbono até 2060. Mas antes disso, prevê passar por um "pico de carbono" até 2030. O mandatário deixou claro que o país não vai aceitar pressão externa, nem participar de uma corrida desenfreada pela transição energética.

Para provar que não é só discurso, em 2023, o gigante asiático construiu tantas usinas de carvão que, somadas, elas têm a capacidade instalada de 50 Gigawatts. Isso significa praticamente um quarto de toda a capacidade instalada no Brasil (contando todas as fontes de energia).

Ainda que o uso dessas usinas a carvão tenha diminuído no período, a sua construção deixa claro que o maior consumidor de energia não vê as demandas ambientais como prioridade.

É significativo que, em meio a esse cenário, as maiores gestoras de ativos do mundo tenham esvaziado o Climate Action 100+, iniciativa de investidores institucionais que buscam engajar as empresas de maior impacto no mundo em termos de emissões de gases de efeito estufa (GEE). JP Morgan, por exemplo, pulou do barco. BlackRock reduziu sua participação.

Em território nacional, Petrobras, PRIO, 3R Petroleum e PetroRecôncavo seguem como recomendações de compra por bancos e corretoras, por suas altas capacidades de valorização, deixando claro que urgência da agenda ESG (de boas práticas na governança corporativa, social e ambiental) está distante das contas no mercado financeiro.

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