Marcos Sawaya Jank

É professor sênior de agronegócio global do Insper e titular da Cátedra Luiz de Queiroz da Esalq-USP em 2019.

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Descrição de chapéu Governo Trump

EUA e China invertem papéis no comércio

Pequim vai determinar se guerra comercial será um jogo perde-perde, ganha-perde ou ganha-ganha

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O presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder Xi Jinping em Pequim
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder Xi Jinping em Pequim - Nicolas Asfouri - 9.nov.17/AFP

Está cada vez mais claro que o foco da nova guerra comercial lançada por Trump é a China. 

Para vencer a competição estratégica com o país asiático, os EUA acabam de soltar uma nova batelada de restrições comerciais, financeiras e de transferência de tecnologia que podem atingir o coração da competitividade chinesa.

Exemplos são a imposição de tarifas de 25% sobre produtos de alta tecnologia que representam até US$ 60 bilhões em exportações chinesas e uma interferência inédita do governo americano em processos de fusão e aquisição de empresas, ilustrada no caso Qualcomm vs. Broadcom.

Em contrapartida, a China anunciou que poderá restringir a soja, a carne suína e os vinhos dos EUA, além de outras retaliações.

O pano de fundo da queixa é o fato de os EUA importarem US$ 490 bilhões da China e exportarem apenas US$ 115 bilhões, o que gera déficit anual de US$ 375 bilhões com o país asiático. Os EUA querem reduzir o valor em US$ 100 bilhões ainda neste ano.

Vejo três resultados possíveis para o conflito EUA-China.

O primeiro seria uma escalada de medidas protecionistas e retaliações sem retorno, que ricochetearia no mundo todo produzindo resultados líquidos negativos ao afetar o comércio, os investimentos e o crescimento global.

O mundo já viveu tempos sombrios dessa natureza. Mesmo que possamos no curto prazo nos beneficiar das retaliações chinesas em algumas commodities, não creio que no longo prazo haverá o que comemorar num cenário de guerra comercial generalizada.

O segundo resultado, mais provável no meu entendimento, seria um grande acordo bilateral entre os dois megaplayers após o tiroteio protecionista, com compensações pontuais da China para manter o status quo. Infelizmente nesse cenário o Brasil pode sair perdendo, pois a pauta de exportações dos EUA para a China é altamente “commoditizada” e curiosamente muito parecida com a nossa.

O Brasil detém hoje o terceiro maior superávit comercial do planeta com a China, calcado na exportação de commodities como soja e carnes, nas quais o nosso maior concorrente são os Estados Unidos. Um acerto mercantilista entre EUA e China, realizado à revelia das regras multilaterais, pode cortar as nossas pernas.

Mas há um terceiro cenário sobre o qual ainda se fala pouco, e que pode ter resultados positivos tanto para mitigar o conflito bilateral como para o mundo. Esse caminho virtuoso seria a China ocupar o vácuo deixado pelos EUA e assumir um papel protagonista no cenário global como defensora da globalização, do livre-comércio e da sustentabilidade.

O país ainda está longe de substituir os EUA como maior shopping center do planeta. O crescimento meteórico chinês foi puxado por exportações hipercompetitivas, mas o país ainda restringe importações e não trata o investidor estrangeiro da mesma forma que o nacional.

No fim do ano passado, a China anunciou uma nova estratégia de longo prazo pró-importações. Em novembro vai ocorrer a Shanghai International Import Expo (CIIE), patrocinada pelo líder Xi Jinping com o objetivo de buscar uma inserção internacional mais equilibrada, que inclui a redução do atual superávit comercial chinês, que alcança US$ 500 bilhões.

Analistas afirmam que importar mais beneficiaria a competitividade das exportações chinesas e ainda criaria um bem público global que ajudaria a consolidar a liderança que a China quer exercer no cenário internacional.

A guerra comercial começou com Trump abandonando tudo o que os EUA promoveram nos últimos 70 anos. Mas é Pequim que vai determinar se ela será um jogo perde-perde, ganha-perde ou ganha-ganha.

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