Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa

Protocolo

Acostumamo-nos a propostas de política pública com números sem qualquer embasamento

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A intuição pode ser útil para cartomantes e vendedores de bálsamos milagrosos, ainda que nem tanto para as suas vítimas. Mesmo pessoas da ciência destroem vidas ao confiar demasiadamente na própria perícia.

Existem aqueles que cometem erros por ignorância, mas há quem erre por inépcia e desatenção aos procedimentos.

Em "The Checklist Manifesto", Atul Gawande, professor de Harvard, observa que a inépcia é mais comum do que pode parecer.

Médicos, por exemplo, executam sequências complexas de procedimentos e podem, no calor de uma emergência, facilmente negligenciar um ou outro cuidado recomendado pelas boas práticas. O mesmo pode acontecer com um piloto de avião durante uma aterrissagem.

Gawande descreve inúmeras circunstâncias, incluindo o atendimento hospitalar, a construção de um prédio ou a rotina de um restaurante, em que a adoção de um simples protocolo com poucos procedimentos reduz a ocorrência de erros estúpidos que inviabilizariam todo o trabalho realizado.

Uma lista com cinco procedimentos reduziu em 66% as infecções em uma UTI no Michigan e provavelmente salvou mais de 1.500 vidas em um ano e meio.

Alguns se surpreenderam com o recente Prêmio Nobel de Economia. Além do mérito da pesquisa sobre como reduzir a pobreza, a imprensa destacou as técnicas utilizadas para avaliar as políticas públicas, semelhantes às adotadas pela medicina em seus experimentos com grupos de controle.

O vencedores do Nobel de Economia 2019 Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer - Jonathan Nackstrand/AFP

Essas técnicas, porém, são recorrentes na pesquisa em economia há muitos anos. Provavelmente, a surpresa apenas decorra do nosso atraso. Acostumamo-nos a propostas de política pública com números sem qualquer embasamento, em meio a intervenções justificadas exclusivamente pelo palpite do príncipe de plantão.

Se toda política pública tivesse de ser justificada por meio de um protocolo que incluísse sistematizar a experiência dos demais países e uma análise cuidadosa da evidência empírica disponível, talvez tivéssemos evitado o desastre da Nova Matriz Econômica.

Da mesma forma, o protocolo do bom direito poderia ter evitado o constrangimento do veredito sobre a ação contra o ex-presidente Temer em razão da sua conversa gravada por um empresário há dois anos.

A denúncia oferecida pelo MPF, segundo o juiz, "desconsidera as interrupções de áudio, suprime o que o Laudo registra como falas ininteligíveis e junta trechos de fala registrados separadamente pela perícia técnica".

O diálogo transcrito pela perícia "não configura, nem mesmo em tese, ilícito penal", concluiu o juiz.

A gravação editada pelo MPF, porém reproduzida como se fosse íntegra por parte da imprensa, parou um país e a sua agenda de reformas.

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