Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcos Lisboa

Nada aprendemos com o desastre da gestão Dilma

Desde os anos 1990, crescemos muito menos do que outros emergentes, inclusive da América Latina

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O debate sobre política econômica no Brasil surpreende pela escassez de temas e de propostas. A polarização ocorre principalmente sobre alguns preços, juros e câmbio, e a necessidade de um ajuste fiscal.

Mesmo quando aparecem outros assuntos, como a nossa disfuncional estrutura tributária, a controvérsia se resume à regressividade de um imposto sobre consumo e à maior oneração de alguns setores. Aparentemente, a maioria dos analistas ignora a complexidade e a sutileza técnica dos problemas.

Não deveria surpreender, portanto, que tantos estrangeiros estejam desistindo de investir no Brasil. Há quatro décadas crescemos menos do que os países ricos e, desde os anos 1990, muito menos do que outros emergentes, inclusive da América Latina.

Chile tem lá seus problemas, mas é duas vezes mais rico do que o Brasil. Colômbia e Peru há 20 anos crescem mais do que nós. O desastre fica maior ainda quando nos comparamos com o leste europeu ou o sudeste da Ásia.

Nosso sistema tributário adota critérios inexistentes em outros países, como definições sui generis de renda e de crédito tributário, em meio a regras complexas que induzem investimentos em atividades ineficientes, tendo como consequência um contencioso difícil de entender para qualquer estrangeiro, cerca de 150 vezes maior do que a mediana da OCDE.

Nossa infraestrutura é capenga, e o setor privado teria apetite para investir fossem outras as condições de contorno. Em vez de enfrentarmos os problemas tecnicamente sutis, no entanto, preferimos as controvérsias sobre temas menores, como a política monetária.

O segredo está nos detalhes e procedimentos, que resultam em custos de transação elevados e uma incerteza disfuncional. Novos investimentos se descobrem reféns de obrigações e contrapartidas inesperadas que tornam obsoletos os planos de negócios.

Reduzir o debate à necessidade de expandir o gasto do governo em contraponto à defesa do ajuste fiscal apenas deixa claro que nada aprendemos com o desastre da gestão Dilma.

O investimento público aumentou mais de 10% ao ano em 2013 e 2014, porém a taxa de crescimento econômico despencou. O resultado foi a longa recessão e uma imensa dívida pública.

Temos o difícil desafio de reformar um poder público caro e ineficiente, quando comparado com os demais países. Estados e municípios não conseguem pagar a folha de pagamentos e a população sofre com a precariedade dos serviços de saúde, educação e saneamento.

Alguns economistas, no entanto, ainda acham que nossos principais problemas são a taxa de juros e o teto dos gastos. Enquanto isso, há uma epidemia que ameaça contaminar o país.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.