Marcus André Melo

Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).

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A 'difícil combinação' no Brasil e nos EUA

O ministério envergonhado e a terapia contra a polarização

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O renomado cientista político Scott Mainwaring acaba de divulgar, em coautoria com um importante intelectual público, Lee Drutman, uma proposta de adoção da representação proporcional (RP) nos EUA, visando a instituição do multipartidarismo naquele país. A justificativa é que o sistema político americano se tornou disfuncional devido à polarização tóxica recente.

Os autores argumentam que os EUA são a única democracia que combina o presidencialismo e o sistema eleitoral majoritário (distrital). Este desenho institucional só é encontrado em países não democráticos: Gana, Libéria e Serra Leoa. Nos demais sistemas presidencialistas adota-se a representação proporcional. Funcionou nos EUA por que os partidos não eram politizados: a distância ideológica entre eles era mínima. Democratas conservadores e republicanos liberais tinham agenda similar.

Montagem com fotos do democrata Joe Biden e do republicano Donald Trump durante a campanha presidencial em 2020
Montagem com fotos do democrata Joe Biden e do republicano Donald Trump durante a campanha presidencial em 2020 - Angela Weiss e Mandel Ngan/AFP

Nos anos 90, houve intenso debate quando Mainwaring argumentou algo diferente: que a "difícil combinação" envolvia presidencialismo e RP, gerando paralisia decisória, polarização que ameaçava a democracia e dificuldades na montagem de coalizões. No Brasil, o problema se exacerbaria, acrescentava, pela RP com lista aberta e um federalismo robusto. O primeiro criaria incentivos para a indisciplina partidária; o segundo, uma dinâmica centrípeta, localista, que impedia os partidos de adquirir caráter nacional.

Em sua visão, o resultado seria uma dinâmica disfuncional nas relações Executivo-Legislativo. Reformas cruciais só seriam aprovadas com concessões que as descaracterizariam e barganhas corruptas, gerando instabilidade.

Nos EUA, a polarização na última década teria levado à quebra do equilíbrio que garantia estabilidade ao sistema. A combinação entre presidencialismo e multipartidarismo agora é vista não só como "fácil" mas também necessária para restaurá-la. A RP permitiria que partidos centristas tivessem viabilidade. A experiência exitosa de Chile, Costa Rica, e Uruguai seria o modelo a ser emulado.

Comércio de toalhas e de produtos relacionados à campanha política do candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), na rua 25 de Março, em São Paulo, em outubro de 2022
Comércio de toalhas e de produtos relacionados à campanha política do candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), na rua 25 de Março, em São Paulo, em outubro de 2022 - Rubens Cavallari/Folhapress

A terapia proposta pode ser discutida em relação ao Brasil onde também temos a difícil combinação: a forte polarização foi mitigada? (como discuti aqui) Sim, a resposta é positiva. Ela também foi crucial na contenção de Bolsonaro. No entanto há custos e efeitos não antecipados. No atual governo, os personagens que foram objeto das críticas mais virulentas, de inimigos da pátria, sob Bolsonaro, ocupam ministérios e lhes dão sustentação parlamentar. O congraçamento de inimigos reforça a ideia de um conluio, o que reforça a própria polarização e legitima outsiders, como discutido aqui.

O "ministério envergonhado" de Lulamarcado por posses de ministros a portas fechadas— é o símbolo de que a sociedade o rejeita.

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