Lula dá posse a novos ministros em cerimônia envergonhada e irrita centrão

Presidente assina termos de posse de Fufuca, Silvio Costa Filho e Márcio França em reunião fechada em seu gabinete

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Brasília

O presidente Lula (PT) empossou na manhã desta quarta-feira (13) os novos ministros de seu governo, após uma arrastada reforma ministerial que ampliou o espaço do centrão no Executivo.

A posse de Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) e André Fufuca (Esportes) aconteceu em uma cerimônia restrita e fechada no gabinete do presidente, no Palácio do Planalto. Na ocasião, também houve a nomeação de Márcio França (ex-ministro de Portos) para a nova pasta do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.

O evento não apareceu na agenda oficial do presidente como uma cerimônia de posse, sendo tratada apenas como uma reunião.

Silvio Costa Filho, Lula e André Fufuca reunidos nesta quarta-feira (13) no Palácio do Planalto - Ricardo Stuckert/Divulgação Presidência

O ato contrasta com os eventos no salão nobre do Planalto com presença de autoridades, parlamentares e discursos para marcar nomeações no primeiro escalão do governo, como a posse do último ministro, Celso Sabino (Turismo), também indicado pelo centrão.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), compareceu à cerimônia reservada no Planalto.

A solenidade tímida irritou uma ala do centrão, que já criticava a negociação da reforma ministerial para abrigar na Esplanada PP e Republicanos.

Integrantes do centrão dizem que a ausência de um evento de posse nos salões do Planalto mostra o desprestígio que o presidente tem dado ao ingresso dos novos ministros.

O Palácio do Planalto divulgou um vídeo de cerca de 1 minuto com declarações feitas por Lula durante a cerimônia fechada.

"Estou muito satisfeito com a conclusão que chegamos na montagem do governo", disse o presidente ao lado de Lira, dos novos ministros e de França.

No vídeo, Lula afirmou que Fufuca deve "saber como está a questão do esporte" e que o setor gera trabalho e saúde.

O presidente disse ainda que conhece Silvio Costa Filho "há bastante tempo". Ele também afirmou que o novo ministro "tem tudo para fazer um bom trabalho".

Lula também se dirigiu a França e disse que tentou, em 2010, criar um ministério da Pequena e Média Empresa.

Silvio Costa Filho e Fufuca participaram na tarde desta quarta das cerimônias de transmissão de cargo em seus respectivos ministérios.

Quando o evento no Planalto já estava em curso, o governo publicou as nomeações de Fufuca, Silvio Costa Filho e França no Diário Oficial da União.

Também saiu a exoneração da ex-ministra dos Esportes Ana Moser —sem constar "a pedido", deixando claro que ela quis marcar a posição de que deixou a Esplanada contra a sua vontade.

Em outro sinal de descontentamento, Moser viajou a São Paulo e não participou da solenidade de transmissão de cargo para Fufuca no Esporte.

Lula concluiu no dia 6 a primeira grande reforma ministerial de seu governo. O objetivo é aumentar a sua base de apoio no Congresso Nacional e avançar com mais facilidade as propostas de seu interesse.

Para acomodar os novos ministros, Lula demitiu Ana Moser, ex-atleta olímpica, militante da área e apoiadora de primeira hora do petista.

Durante sua tradicional transmissão semanal, o Conversas com o Presidente, na semana passada, Lula disse que é "sempre muito difícil" demitir um ministro para atender um acordo político. No entanto, precisava construir uma base forte no Congresso Nacional.

"É sempre muito difícil você chamar alguém e falar: 'olha, preciso do ministério porque fiz um acordo com o partido político e preciso atender'. Mas essa é a política. O governo tem propostas importantes para passar no Congresso Nacional", afirmou na ocasião.

O anúncio dos novos ministros do governo já havia sido marcado por discrição e mesmo a ausência de gestos públicos do presidente. Fufuca e Silvio Costa Filho foram anunciados por meio de uma breve nota da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), que também tratava do remanejamento de França.

Pouco depois, a mesma Secom divulgou uma foto dos novos ministros ao lado do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT).

A primeira troca de ministros do governo Lula também se deu com bastante discrição, com apenas a assinatura do termo de posse e uma foto protocolar. No entanto, o contexto político era diferente.

A primeira mudança no primeiro escalão de Lula ocorreu no GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Marcos Antonio Amaro assumiu a estrutura, em abril, no lugar de Gonçalves Dias, que havia sido demitido após o vazamento de imagens do circuito interno do Planalto no dia 8 de janeiro. Os vídeos mostravam leniência de alguns integrantes do órgão com os invasores que depredaram as sedes dos três Poderes.

Meses depois, Lula demitiu a aliada Daniela Carneiro do Ministério do Turismo, após a União Brasil reivindicar o posto. Isso porque a então ministra se desligou da legenda.

Ao contrário do evento discreto no Planalto, as cerimônias de transmissão de cargo, nos respectivos ministérios, foram bastante concorridas, com auditórios abarrotados.

No caso de Silvio Costa Filho, prestigiaram a cerimônia o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), diversos ministros de Estado, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), e dezenas de parlamentares. França brincou que havia um "overbooking" na cerimônia.

Em seu discurso, o novo ministro fez questão de exaltar Lula, a quem chamou de "maior presidente da história" do Brasil. Também elogiou a ex-presidente Dilma Rousseff, "por toda a lealdade e todo o espírito público".

Sua família tem histórico de apoio ao PT, apesar de o partido ter se aliado ao governo Jair Bolsonaro (PL).

Fufuca, logo após o evento com Lula, cometeu a primeira gafe como titular de Ministério do Esporte. O ministro afirmou que a qualidade do esporte brasileiro é "quase zero". A fala aconteceu ao descrever que teria dois grandes desafios à frente da pasta, sendo que o primeiro deles era substituir Ana Moser.

"E o segundo e principal objetivo e missão dada pelo presidente Lula é poder ter uma revolução no esporte nacional. Quando falo uma revolução, eu falo no começo, que é a democratização do esporte. Não podemos falar numa revolução esportiva a partir do momento em que temos disparidade entre o tratamento do esportista masculino e da esportista feminina", disse.

"Não podemos falar de uma revolução esportiva no momento em que temos um esporte de qualidade quase zero no país. Temos muito a avançar, muito a crescer, e tenham certeza de que aqui tem um jovem com disposição, com vontade de trabalhar e com humildade para que possa crescer junto com todos o esporte nacional brasileiro", completou.

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