Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Maria Hermínia Tavares
Descrição de chapéu Eleições 2018

Que golpe seria esse de Bolsonaro?

Mesmo nas redes sociais o ex-capitão bombista vem perdendo espaço para adversários

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Autoritário por índole, Bolsonaro quer ser ditador. Fala em liberdade e democracia enquanto ameaça opositores e investe virulentamente contra as instituições que as garantem. Não faz outra coisa senão atacá-las. Sem sombra de dúvida, é um golpista em tempo integral. Mas a bordoada que pretende desferir no sistema pelo qual se elegeu segue roteiro improvável.

A literatura sobre golpes registra três caminhos para o sucesso. No primeiro, o titular do governo, diante de ameaça grave —ainda que forjada--, obtém o apoio dos poderosos e das Forças Armadas para impor uma ordem autoritária. Foi o caso de Getúlio Vargas em 1937, ao criar o Estado Novo. No segundo cenário, em clima de conflagração política, elites civis e militares conspiram para derrubar o mandatário eleito e, se bem-sucedidas, enterrar a democracia. Esse foi o golpe que se abateu sobre o país em 1964.

Por último, a terceira via é aquela tratada pelos cientistas políticos americanos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt em "Como as Democracias Morrem". Eles descrevem um lento processo de corrosão das instituições democráticas, promovido por um governante legitimado pelo voto. Para ter êxito, o candidato a autocrata depende, além de amplo respaldo das ruas, de robusta maioria parlamentar que lhe permita aprovar leis adequadas a seus propósitos. Precisa contar ainda com um Judiciário fraco e obsequioso; uma imprensa passível de ser controlada ou comprada; e um estamento militar cooptado com benesses e mudanças de regras que propiciem a ascensão rápida dos simpatizantes do regime de força. Esse está longe de ser um caminho aplainado: eis por que se contam nos dedos de uma das mãos os casos de pleno êxito da empreitada autoritária.

Não é bem o caminho que tem sido percorrido pelo ocupante do Planalto. Com apoio de apenas 1 em cada 4 brasileiros, a sua gestão é um fracasso de ponta a ponta. Ele tampouco logrou construir uma base parlamentar bastante ampla para arrimar um legalismo autoritário. O STF tem lhe infligido sucessivas derrotas. A mídia convencional lhe é refratária. Mesmo nas redes sociais, seu meio por excelência, o ex-capitão bombista vem perdendo espaço para os adversários. Grandes lideranças da economia, como se acaba de ver, começam a recear abalos que a sua conduta destrutiva tende a desencadear.

No Dia da Pátria, o aspirante a ditador escancarou os limites de sua força. Pôs nas ruas os milhares que o seguem cegamente. Eles lhe serão úteis para disseminar violência e caos —condição necessária, mas decerto insuficiente para um golpe bem-sucedido.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.