Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

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Maria Hermínia Tavares
Descrição de chapéu Eleições 2018

Barrar a barbárie

É muito cedo para dar como certa a derrocada de Bolsonaro pelo voto

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Os ventos da política parecem soprar contra o governo de Jair Bolsonaro. A economia, sem comando nem rumo, vagueia entre uma pálida recuperação e a imprevista subida dos preços que aflige os mais pobres e corrói a confiança que possam haver depositado no ex-capitão. A deplorável imagem do país no exterior tira o apetite dos potenciais investidores estrangeiros —com repercussões óbvias no estado de ânimo da turma da Faria Lima em face do chefe de Paulo Guedes.

A pandemia vai cedendo na medida do avanço da vacinação, mas os enfermos e os mortos contam-se às centenas de milhares, boa parte deles vítimas da combinação de incompetência, ignorância e ganância que se apossou do Ministério da Saúde. A CPI da Covid-19 contabilizou mais de uma dezena e meia de possíveis crimes de responsabilidade do primeiro mandatário no trato da pandemia.

Jair Bolsonaro com menina fantasiada com roupa do Bope em Belo Horizonte - Rodney Costa/Futura Press/Folhapress

Isso se reflete, de um lado, na sua crescente impopularidade aferida pelas pesquisas; de outro, no definhamento da parcela do eleitorado que ainda se diz inclinada a lhe conferir novo mandato, se o pleito ocorresse agora. Nessa hipótese, Bolsonaro seria derrotado por todos os presumíveis adversários de peso na disputa pelo Planalto.

A boa notícia anima as oposições e as torna cada vez mais indispostas a gestos recíprocos de boa vontade, em nome do imperativo de barrar a barbárie que o titular do Planalto encarna como ninguém e estimula naqueles que o seguem. De fato, em que país minimamente civilizado seria aceitável que o primeiro escalão da Secretaria da Cultura —titular à frente— divulgasse em suas redes sociais uma foto em que todos orgulhosamente portam metralhadoras?

É muito cedo, porém, para dar como certa a derrocada pelo voto do símbolo do que de pior este país produziu. Em regimes presidencialistas com reeleição, a vantagem é quase sempre do detentor do cargo em jogo. Estudo da consultoria Eurasia Group mostra que, em 224 confrontos presidenciais pelo mundo afora, o incumbente só foi derrotado em 32. Outro levantamento, realizado pela Ipsos Public Affairs com base em 300 votações, concluiu que o incumbente é imbatível quando aprovado por 40% do eleitorado. Já se contar com o apoio de 30%, sua chance de êxito cai para 19%, despencando para 8% quando apenas 1/4 da população o avalia bem.

Claro que há muito chão pela frente até outubro vindouro. E, mesmo na improvável suposição de que Bolsonaro se conduza conforme as regras do sistema democrático, o resultado irá depender em boa medida da capacidade das oposições de não destruírem, de antemão, a possibilidade de se aliar no segundo turno.

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