Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

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Maria Hermínia Tavares

Populismo em baixa no mundo

A doença insidiosa pôs freios à onda mundial desse gênero de autoritarismo

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Quando a pandemia de Covid-19 começou, estudiosos da política e da sociedade temeram que seus efeitos pudessem ir além da destruição de vidas. Imaginaram que o vírus viesse a fortalecer o populismo —de direita ou de esquerda—, dotando os seus líderes de pretextos para concentrar poder e atropelar as liberdades e as instituições da democracia, em nome, bem entendido, da defesa da saúde coletiva.

O receio —embora plausível— não se confirmou. É o que mostra o abrangente estudo do Centro para o Futuro da Democracia, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, divulgado na semana passada, sob o título "The great reset - public opinion, populism and pandemic" (A grande reconexão: opinião pública, populismo e pandemia).

Primeira revisão do impacto da calamidade sobre atitudes e convicções políticas ao redor do mundo, o documento consolida resultados de numerosas pesquisas conduzidas em 27 países com pouco mais de 180 mil pessoas, ao longo de 2020 e 2021.

Os dados retrabalhados pelos autores do relatório são, em certa medida, surpreendentes: a doença insidiosa parece ter posto freios à onda mundial daquele gênero particular de autoritarismo, quando não provocado sua reversão em três planos diferentes.

Governantes populistas perderam apoio da opinião pública antes e de forma mais acentuada do que chefes de Estado democráticos. Alguns perderam eleições e tiveram que deixar o poder —Trump, nos Estados Unidos; Netanyahu, em Israel; Babis, na República Checa— ou estão com a cabeça a prêmio nos pleitos de 2022, a exemplo do húngaro Orbán e do brasileiro Bolsonaro.

Bolsonaro com apoiadores no Palácio do Alvorada, em junho de 2021 - Jair Bolsonaro no Facebook

Partidos populistas também viram seu prestígio minguar. Em toda a Europa Ocidental, agremiações de extrema direita foram as mais punidas pelos eleitores. Na América, o Morena do mexicano López Obrador não obteve a maioria necessária para mudar a Constituição. O chavismo sofreu derrota em pleito recente para os governos subnacionais venezuelanos.

Por fim, encolheu também a adesão dos cidadãos a crenças comumente mobilizadas pelas lideranças populistas, como a da oposição entre o "povo puro" e as "elites corruptas", ou a alegação de que a "vontade popular", encarnada no autocrata da vez, deve pairar sobre as instituições da democracia.

Ao buscar explicações para a erosão generalizada das simpatias pela família política na qual Bolsonaro se distingue, o relatório ressalta a percepção do desastre promovido por seus membros no enfrentamento da pandemia. Além do cansaço da polarização política, onde viceja a extrema direita, e uma renascida aspiração por soluções políticas moderadas.

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