O encontro do presidente Lula com seu homólogo americano, Joe Biden, na semana passada, foi bem mais que uma oportunidade para restabelecer o diálogo entre as duas nações, travado por Bolsonaro. O brasileiro aproveitou a visita à Casa Branca para reafirmar, em grandes linhas, a agenda que balizará a política externa de seu governo.
Ela se arrima em quatro questões de alcance global: a proteção ao meio ambiente; o combate às desigualdades; a solução pacífica dos conflitos entre Estados; a defesa da democracia ameaçada pela extrema-direita. Embora a contribuição que possa dar à sua abordagem em escala planetária varie amplamente de questão para questão, em face de todas elas o país dispõe de experiências que lhe asseguram credibilidade para falar e lastro para propor.
Em boa medida, o centenário compromisso do Brasil com a paz entre as nações e a busca de soluções diplomáticas para os conflitos explicam a raridade de confrontos armados entre Estados no entorno sul-americano.
Os esforços para lidar com a pobreza e as múltiplas iniquidades nacionais constaram da agenda de todos os governos civis. Inscritos na Constituição de 1988, traduziram-se em reformas sociais e políticas públicas inovadoras. Seus resultados mais palpáveis ocorreram nos governos petistas, legitimando a ênfase de Lula-3 no combate às desigualdades em toda parte.
As reservas de floresta e biodiversidade, a existência de populações originárias portadoras de rico acervo cultural e a experiência mais recente de construção de instrumentos para garantir o patrimônio socioambiental do país fazem do Brasil um interlocutor de primeira grandeza nas arenas onde se discute o destino do planeta.
No passado, o protagonismo na formação dos regimes internacionais de mudanças climáticas e biodiversidade e, no presente, a maneira decidida como Brasília trata de enfrentar a crise humanitária e ambiental na terra yanomami, provocada pelo governo Bolsonaro, respaldam a ambição internacional do país na matéria.
Finalmente, a resiliência dos Poderes da República ao assédio da extrema direita, o compromisso com a legalidade por parte das lideranças responsáveis pela ampla coalizão vitoriosa nas recentes eleições e o impecável currículo democrático de Lula dão integral amparo à sua proposta de defesa internacional do regime de liberdades.
Ademais, pelo que é, o país tem a responsabilidade de estimular na América do Sul o estabelecimento de mecanismos que protejam o sistema democrático da renitente instabilidade política regional e facilitem a transição ali onde o autoritarismo está estabelecido.
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