Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

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Eleições 2018

Lamentável surpresa

A suspensão das aulas na pandemia fez pouca ou nenhuma diferença; a maioria das escolas quase nada ensina

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A julgar pelo domínio de matemática, a pandemia não afetou o aprendizado médio dos brasileiros na faixa dos 15 anos. E mais, a queda, onde houve, foi pior entre estudantes de renda mais alta, ao contrário do que ocorreu em países ricos como Alemanha, França, Islândia e Suécia.

A informação é do professor da USP e do Insper, Naercio Menezes Filho, reconhecido especialista em economia da educação. Na sua coluna de 26/1 no jornal Valor, ele comparou os resultados de 2019 e 2022 do exame internacional Pisa. Realizada em 81 países, a prova afere conhecimentos de estudantes do mesmo grupo de idade em matemática, leitura e ciências.

Alunos da Emef Professora Sylvia Martin Pires, na zona sul de São Paulo - Rivaldo Gomes - 25.ou.21/Folhapress

O achado surpreende —e configura uma notícia lamentável. Se a nota média dos brasileiros não se alterou, só 1 em cada cem atingiu os níveis 5 e 6 em matemática. Tem mais: no conjunto das provas, o Brasil ficou na rabeira, entre os 20 países com piores resultados. Vale lembrar que, durante a pandemia, as escolas brasileiras foram as que ficaram fechadas por mais tempo.

A conclusão do professor é terrível: a suspensão das aulas fez pouca ou nenhuma diferença para a rapaziada; afinal, a maioria das escolas quase nada ensina. E quanto mais pobre for o aluno, maior o risco de aprender pouco.

Menezes encontrou resultados semelhantes ao analisar os dados da prova nacional do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) aplicada a alunos do terceiro ano do ensino médio. À diferença do que ocorreu com o Pisa, o pesquisador constatou não só declínio no desempenho dos estudantes entre 2019 e 2021, mas, sobretudo, enormes diferenças entre os Estados. Naqueles onde o ensino de matemática era muito fraco antes da pandemia, quase nada mudou. Nos outros, de desempenho algo melhor em 2019, o declínio foi pequeno. Finalmente, em um terceiro grupo de unidades da Federação, nada deteve o mergulho águas abaixo.

Ao receber participantes da Conferência Nacional de Educação, o presidente Lula reiterou a agenda divulgada pouco antes pelo titular do setor, Camilo Santana: escolas de tempo integral, programa Pé de Meia para estudantes do ensino médio, fortalecimento da alfabetização, ampliação das cotas, retomada de obras, aumento da conectividade nas escolas —iniciativas obviamente bem-vindas. Mas, por si sós, talvez não bastem. A melhora geral da qualidade e a diminuição dos desníveis entre os grupos sociais e os estados da Federação pedem visão de conjunto, capacidade nacional de coordenação e incentivos bem desenhados, o que só Brasília pode prover: não haverão de brotar espontaneamente das medidas anunciadas pelo ministro e endossadas pelo presidente.

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