Maria Inês Dolci

Advogada especializada na área da defesa do consumidor.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Maria Inês Dolci
Descrição de chapéu Folhajus

Queremos dar adeus aos robozinhos atendentes

Informar mal e colocar um chatbot para pagar o pato é uma péssima tática

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Que me perdoem os chatbots atendentes, mas os consumidores não suportam mais ser atendidos por robôs. Terá razão a Senacon (Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor) se trabalhar mesmo pela revogação do decreto do SAC, possibilidade que já foi divulgada. Adeus, robozinhos, queremos ser atendidos por seres humanos.

O artigo 6º do CDC (Código de Defesa do Consumidor) assegura o direito à "informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem".

Informação clara é algo que os robozinhos não podem fornecer, porque são programados para um passo a passo muito simples. Resultado: o consumidor perde tempo e paciência, até ser transferido para um atendente de verdade. O uso dos chatbots reduz os custos para as empresas que os utilizam, mas piora o atendimento ao cliente.

Operadora trabalha em central telefônica de serviço de táxi
Operadora trabalha em central telefônica de serviço de táxi - Michael Tewelde - 29.mar.2022/Xinhua

O consumidor tem tido grandes dificuldades de acesso aos canais de comunicação para encaminhar demandas às empresas. Há divergências nos telefones indicados para contato (alguns ficam quase escondidos), e o atendimento pelos robôs é precário.

Há outras formas indiretas de melhorar o atendimento, como aperfeiçoar a área de FAQ –respostas às perguntas mais frequentes. Quanto mais opções e detalhes, melhor para o consumidor. Isso realmente pode evitar que questões simples ocupem o tempo de um atendente real.

Outra forma de reduzir os contatos é melhorar a comunicação de reajustes, mudanças de serviços, tarifação etc. Por exemplo, no caso da cobrança de compartilhamento de senha da Netflix, o aviso deveria ter ocorrido bem antes de entrar em vigor, com muito mais detalhes. Essa explicação acabou feita pelos meios de comunicação, mas cabia à operadora de streaming.

Bons contratos, simples, diretos e objetivos também contribuem para que o cliente entenda melhor pelo que está pagando. Sonegar informações para evitar questionamentos tem o efeito contrário. Irritadas e insatisfeitas, as pessoas ligam para obter mais dados e reclamar pelo descaso do fornecedor.

Manuais de instruções também têm de ser melhorados. Deveriam começar com as dúvidas mais frequentes, em linguagem simples e acessível. E, por favor, com letras e números maiores, pois a população brasileira está envelhecendo. Uma boa maneira de avaliar a qualidade e o nível de compreensão de um manual é submetê-lo a consumidores leigos, antes de torná-los públicos.

Não adianta, também, usar jargões profissionais, muito técnicos ou especializados. Se for indispensável recorrer a estes termos, explicar entre parênteses o que significam. Da mesma forma, traduzir palavras em outros idiomas. Se for o caso, recorrer a figuras para explicar melhor determinadas funções de um produto ou as características de um serviço.

Informar mal e colocar um robozinho para pagar o pato é uma péssima tática. Atendimento para humanos tem de ser feitos por humanos, e ponto final.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.