Em outubro do ano passado, entraram em vigor as novas normas para rotulagem de alimentos e bebidas, para produtos lançados há um ano, com informações nutricionais em destaque. Você já deve ter notado que há uma lupa com a expressão "alto em", seguida de "açúcar adicionado", "gordura saturada", "sódio".
Mas, como ressaltou reportagem desta Folha, as advertências não chamam atenção como deveriam. Estamos desperdiçando um eficaz instrumento de cuidado com a saúde.
Se um alimento tiver, por exemplo, alerta sobre sódio, isso significa que tem elevado percentual de sal, o que não é indicado para pessoas com hipertensão arterial. Gordura saturada pode elevar os níveis de colesterol LDL (o ruim) e contribuir para ganho de peso. Açúcar adicionado está associado ao sobrepeso e à obesidade, além de ameaçar a vida de quem tiver diabetes.
Cabe, aqui, um alerta –o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) denunciou a Nestlé à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) por "tentar passar a perna na nova rotulagem nutricional frontal ao inserir a lupa na abertura do lacre". Ou seja, em uma parte do rótulo que será rasgada na abertura do produto. Portanto, olho vivo na lupa!
Informações nutricionais, é óbvio, são mais dados para ajudar o consumidor a escolher alimentos e bebidas que incluirá em sua dieta. E, dessa forma, poderá ter uma alimentação mais saudável, que, combinada a exercícios físicos, boa rotina de sono, consumo de água, não fumar e não abusar das bebidas alcoólicas, ajudará a evitar inúmeras doenças, inclusive as mais graves.
Há inúmeros argumentos utilizados para defender uma dieta mais permissiva: entre eles, a vida é curta, vegetais e legumes são muito caros, todos têm algum vício etc. Nem é preciso dizer que pensar assim é extremamente perigoso. No mínimo, aumenta o risco de contrair doenças vinculadas à obesidade, ao sedentarismo, ao tabagismo e ao alcoolismo.
O consumidor, sinceramente, não deve esperar que as indústrias de alimentos e de bebidas adotem padrões rigorosíssimos de saúde na fabricação de produtos como biscoito recheado, macarrão instantâneo, refrigerantes, salgadinhos etc. Enquanto houver demanda, esses itens continuarão a ocupar espaço nas prateleiras dos supermercados.
Nós já temos muitas informações sobre o que faz bem e o que faz mal à saúde. Produtos ultraprocessados –refrigerantes, salgadinhos, doces, pães industrializados, bolos, cereais adoçados, sopas em pó, macarrão instantâneo, salsichas, hambúrgueres– devem ser substituídos por alimentos in natura ou minimamente processados.
Arroz e feijão, a dupla presente em quase todos os lares do Brasil, são minimamente processados, bem como massas frescas e sucos de frutas sem adição de açúcar. In natura são vegetais, legumes, frutas, ovos, peixes e carnes.
A decisão é nossa, mas as consequências dos abusos são coletivas, como as doenças crônicas e as mortes precoces, que afetam familiares, amigos, colegas e os sistemas públicos e privados de saúde.
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