Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.
O 'desastre' que empurrou o judô
Rosicleia Campos conta que o pânico durou um minuto. O resultado era tão ruim, mas tão ruim, que parecia que o mundo ia desabar.
O cenário da crise era o Campeonato Mundial, justamente no ano que antecedia a Olimpíada. A equipe brasileira de judô acabara de atingir seu pior desempenho na competição desde 2009. E o problema não eram só aquelas duas míseras medalhas de bronze.
O medo maior era o de perceber que algo estava muito errado na preparação para o evento mais importante da história do esporte olímpico brasileiro. O judô é uma das principais esperanças de medalha do país. E se estivesse mesmo tudo errado, daria tempo de corrigir o rumo?
Eles tentaram.
Rosicleia, técnica da seleção feminina, diz, sem medo de parecer Poliana demais, que a "tragédia" foi positiva. "Aquele resultado ruim acabou sendo bom e rendeu muitos frutos. E ainda bem que aconteceu na hora certa, antes da Olimpíada."
Ela conta que sentou frente a frente com as judocas e pediu que cada uma assumisse suas responsabilidades. Ela também seguiu o próprio conselho. Passou a controlar seu jeito "mandão" e começou a ouvir mais as pupilas que acompanha desde que eram juvenis.
A confederação também percebeu que precisava se mexer, tentar algo novo. O movimento foi o de se aproximar mais dos clubes.
Segundo Ney Wilson, gestor técnico de alto rendimento da CBJ, as comissões técnicas que trabalham com os atletas quando eles não estão na seleção passaram a participar dos treinamentos da equipe. Houve reuniões com nutricionistas e psicólogas. O planejamento passou a ser feito por várias mãos, de forma integrada. E as equipes multidisciplinares puderam opinar também além de suas áreas específicas, tornando-se interdisciplinares.
Será esse o segredo que fará a equipe brilhar nos Jogos do Rio? Difícil dizer. Mas as mudanças, somadas aos resultados do país no período pré-olímpico, mantêm o judô como um dos alicerces da campanha brasileira rumo ao top 10 do quadro de medalhas, meta do COB.
A seleção, anunciada nesta quarta (1º), tem uma equipe feminina bastante forte, com três atletas entre as quatro primeiras do ranking, todas candidatas ao pódio em agosto.
O time masculino também apresenta bons atletas, mas precisa amadurecer mais um pouco.
Curiosamente, a CBJ oscilou entre apostar na experiência e no frescor de novos nomes nas duas disputas mais acirradas pelas vagas –o primeiro critério de escolha era colocação no ranking, mas a entidade também levaria em conta outros quesitos técnicos. Eric Takabatake terminou a corrida à frente do medalhista de bronze em Londres-2012, Felipe Kitadai, mas foi preterido na categoria até 60 kg. Já Rafael Buzacarini, 24, desbancou o campeão mundial em 2007 Luciano Correa, 33, na categoria até 100 kg.
A confederação diz que, a pedido dos atletas, não divulgará quantas medalhas quer conquistar no Rio. Uma pena. O judô era uma das poucas modalidades que não tinham medo de expor seus desafios, nem de ousar nas metas. E já mostrou que sabe aprender com tropeços.
Mas não precisa ser adivinho para entender qual é o objetivo. Em Londres-2012, foram um ouro e três bronzes. Em casa, após a melhor preparação da história, ninguém quer andar para trás.
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