Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Quem poderá salvar o Rio?

Governante de uma cidade como o Rio não é para folgar, para viajar, para descansar

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Carro da polícia em meio a foliões na região de Ipanema, no Rio
Carro da polícia em meio a foliões na região de Ipanema, no Rio - Luciola Villela/ UOL

Parece que a violência atravessou de vez o túnel. E dessa vez foi para ficar, diferente de quando critiquei a cegueira coletiva que imperava no Rio pré-Olimpíada, há mais ou menos dois anos. É revoltante ver as cenas de terror generalizado, me privar de percorrer pequenas distâncias a pé, escolher lugares a serem evitados e viver num constante estado de alerta. Infelizmente nada disso chega a ser surpresa.

A situação do Rio piorou? Sem dúvida, mas os índices já eram escandalosos quando disse lá atrás que a vida é curta demais para morar por aqui. Curta demais para as vítimas de bala perdida, de assalto com morte, de chacinas e assassinatos. A diferença é que as situações de risco se multiplicaram por todos os cantos da cidade e não se restringem à parte feia e pobre e nem a acontecimentos isolados nos cartões postais da cidade.

Finalmente os moradores se deram conta de que a fatura de tantos anos de conivência com a violência então restrita a poucos lugares está sendo muito alta. Décadas em que governos passaram um paninho para lustrar a realidade das favelas, rebatizadas providencialmente de comunidades, sem que nada mudasse no fato de que milhares de pessoas vivem sem saneamento, sem educação, sem oportunidade, ora reféns do tráfico, ora da milícia, dependendo de um poder público incompetente e omisso.

A nossa bolha explodiu. Aquele lado mais feio, miserável e perigoso da cidade que só atravessava a vida de nós, moradores do lado turístico, no caminho do aeroporto, cansou de ser esquecido e tolerado. E agora nos vemos todos reféns do mesmo descaso.

É inaceitável que um governante viaje para aproveitar a "folguinha" de Carnaval, com a desculpa esfarrapada de que vai visitar uma feira de tecnologia, quando sabemos que o prefeito-pastor queria apenas fugir da festa como o diabo da cruz. Não adianta publicar um post no Facebook, dizendo que a cidade tem um plano especial de segurança e entrar num avião, quando os números mostram que só em janeiro a cidade teve 640 tiroteios.

Carnaval para o prefeito de uma cidade como o Rio não é para folgar, para viajar, para descansar. É para trabalhar duro, fiscalizar, marcar presença, se responsabilizar por tudo que acontece, nem que seja para nos dar a falsa sensação de que não estamos à deriva.

O mesmo vale para o governador do Estado que se refugiou em Piraí, sua cidade natal, enquanto eram registrados assaltos, arrastões, espancamentos e mortes. É vergonhoso que ele tenha a pachorra de dizer que não estávamos preparados e que houve uma falha nos primeiros dias. Luiz Fernando Pezão acha que "houve um erro" deles (do governo) e anunciou que uma equipe se reuniria no fim da tarde de ontem para fazer um balanço dos episódios de violência dos últimos dias.

Dos últimos dias? Governador, aconselho a voltar alguns bons anos na história. Quem poderá salvar o Rio, quando seus governantes parecem não ter a menor ideia do que fazer para minimizar o caos em que o Estado se encontra?

Planos de ação têm sido divulgados a cada momento considerado crítico pelas autoridades. Fico imaginando em quais parâmetros se baseiam essas análises. O que para eles é crítico se não o dia a dia que se transformou a vida de qualquer pessoa no Rio de Janeiro? Nem a presença das Forças Armadas em algumas operações mudou alguma coisa na situação desesperadora em que nos encontramos.

O que me faz lembrar de que há um ano ouvi de um representante do alto escalão do Ministério da Justiça que o Rio está próximo de se transformar no México. Alguém duvida?

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