Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Privacidade nos dias de hoje é ilusão

Não vou deletar minha conta do Facebook e de nenhuma outra rede social por uma única razão: privacidade nos dias de hoje é ilusão para quem quer viver num mundo conectado. O que a rede de Zuckerberg fez, obviamente, é uma canalhice, mas temos muita responsabilidade sobre as informações que estão lá disponíveis.

O Facebook está sob escrutínio público após deslizes no controle de privacidade de seus usuários - AFP

Por conta própria eu mesmo informei escolaridade, estado civil, idade, hobbies, nome de parentes, cidade onde morei, onde nasci, empresas onde trabalhei e trabalho. Coisas que eu já nem me lembrava mais, mas que estão em meu perfil entregando de bandeja quem sou. Todas as páginas que sigo, os anúncios em que clico, os likes que dou em posts compartilhados, os aplicativos acessados com o login dessa rede, contatos telefônicos, as mensagens trocadas. Tudo isso é armazenado e vem montando o quebra-cabeça da minha pessoa. E essas informações, como temos certeza agora, podem ser usadas em várias situações.

Se você está convencido de que vai deletar sua conta é bom também parar de usar o Google e todas as empresas ligadas a ele, como o Youtube. Ele registra nossa localização cada vez que ligamos o celular (se o localizador estiver ativado), sabe tudo o que pesquisamos, mesmo o que deletamos do histórico, usa nosso perfil para que a gente receba anúncios personalizados, tem acesso a todos os aplicativos que usamos, o que assistimos no Youtube (consegui ver o que pesquisei até seis anos atrás), os documentos salvos. Falei que tem acesso a todos contatos, emails, calendário? Pois é.

Algumas pessoas conseguem viver desconectadas, mas não é a realidade para mim e tantos outros. O que podemos fazer é apagar as informações pessoais, desabilitar localização, compartilhamento de dados de todas essas redes, deixar de seguir algumas páginas, não clicar em anúncios. É difícil, mas possível diminuir o que essas empresas têm acesso sobre nossa vida, o que fazemos dela e o que pensamos.

Por que o Facebook precisa saber se sou casada, se trabalho neste ou naquele lugar, quais são meus hobbies, meu número de telefone? A gente revela por vaidade, como se tivesse que preencher um gabarito e não deixar a vida online com espaços vazios. Por que preciso dar checkin quando estou numa cidade, num bar ou num show? Soberba. Todas as nossas fotos —e nossos passos— acabam sendo mapeados, sem necessidade. É só desabilitar essa função. 

Com medidas simples é possível ficar um pouco mais invisível, sem se ausentar das redes sociais. A gente não precisa abrir mão da convivência online, mas pode e deve ser menos vulnerável a manipulações. A dinâmica mudou, não existe mais vida online e vida offline, existe vida e na atual as pessoas estão conectadas de alguma forma, seja com outras ou com o mundo ao redor. Ingenuidade achar que vamos mudar isso deletando o Facebook. O que não dá é ser inocente e não ter a clareza de que há um preço a ser pago por isso. E cada um escolhe se paga mais ou menos. 
 

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