Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Até que a lua de mel os separe

O dia a dia de um relacionamento, como sabemos, é duro

Certa vez me perguntaram se eu acreditava em astrologia. Eu, que sou das pessoas mais céticas, disse que acreditava até em homem, como haveria de não acreditar que Marte retrógrado teria o poder de esculhambar a vida de todo mundo?

Quem nunca esteve num momento da vida desiludido, sem emprego, sem dinheiro, sem esperança, sem amor, e cai de encantamento com o primeiro que aparece e acena com um lugar além do horizonte, bonito e tranquilo pra gente se amar?

Você acabou de sair de um relacionamento longo em que tudo ruiu. Teve traição, roubo, mentira, tanta decepção. O coração está despedaçado, mas então aparece um “mozão” cheio de promessas, dizendo que tudo será diferente, que a vida de vocês será aquele mar de rosas. Promete te amar, te respeitar, te proteger, te dar emprego e uma arma, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe.

Tem casamento, tem festa, tem a lua de mel. E tem a vida real. No amor e na política.

 

Quase 60 milhões de cidadãos celebraram um pacto de fidelidade com o novo presidente, no último domingo. Jair Bolsonaro prometeu e não foi pouco. Os eleitores não apenas o conduziram ao altar, mas disseram sim às suas promessas de mais empregos, de menos violência, de crescimento, de acabar com a corrupção e com a política do toma-lá-dá-cá. A palavra foi dada, embora ele não tenha deixado claro como pretende honrá-la.

Teremos um período de lua de mel que deve durar até a posse com mais intensidade e que se arrefecerá com o passar dos primeiros meses. É quando o casamento começa de verdade. E o dia a dia, como sabemos, é duro. Um relacionamento construído sobre alicerces frouxos esmorece quando um dos lados (o mais carente) percebe que não recebe atenção, comprometimento, comida, dinheiro, verdade. A expectativa é uma merda, como diriam os filósofos.

Mesmo assim as relações demoram a se deteriorar. Basta ver o relacionamento abusivo que parte da população ainda vive ao acreditar que a outra alternativa a Bolsonaro eram as mesmas propostas que levaram o Brasil ao estado de caos em que se encontra hoje. A pessoa propõe uma reconciliação, sem pedir desculpa e sem ter mudado nadinha. Mas quem nunca aceitou o ex de volta sabendo que ia rolar mais chifre? A gente faz dessas coisas.

A partir de janeiro, o champanhe acaba e a música cessa. “Mozão” terá que começar a bater ponto, reformar a casa, colocar comida na mesa, pagar os boletos, cuidar das crianças, controlar os parentes folgados, e ainda manter a chama do romance acesa. Resta saber se essa união terá um “e foram felizes para sempre” ou se vai acabar em separação litigiosa.

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