Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mariliz Pereira Jorge

Você apagaria fotos do ex das redes sociais?

Todos os dias, os aplicativos nos mostram detalhes de como já vivemos, nos comportamos, como pensamos sobre vários assuntos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Estava eu, lá, toda bronzeada, 10 anos mais jovem, 10 quilos mais magra, com a cintura enlaçada por um homem que não era meu marido. Parecia em outra vida, mas era só em outra administração.

Eu e um ex, numa foto, em uma praia na Bahia, em pleno Facebook, em 2020. As redes sociais têm esse dispositivo muito simpático, mas que pode ser também bastante desconfortável, se você não está em paz com o seu passado.

Eu estou, mas confesso que ao dar de cara comigo mesma, felizinha, nos braços de outra pessoa, não soube o que fazer.

Fotos em mural de cortiça, no mural virtual do site Pinterest
Fotos em mural de cortiça, no mural virtual do site Pinterest - Isadora Brant/Folhapress

Deleto? Mostro para o meu marido, afinal ele sabe que tive passado? Foi bom, fui feliz, não deu mais certo, fiquei muito infeliz, a fila andou, mas faz parte da minha história. Preciso apagar esse capítulo?

Todos os dias, os aplicativos nos mostram detalhes de como já vivemos, nos comportamos, como pensamos sobre vários assuntos em diferentes momentos da vida.

Se você tem uma atividade social intensa nas redes, fica tudo registrado sobre a pessoa que tem sido ao menos na última década, quando passamos a compartilhar quase tudo com o mundo, do café da manhã a quem votamos para presidente.

Está tudo lá, reunido num diário virtual, momentos felizes, celebrações, memes, fotos de gatos, de viagem, assim como informações das quais não nos orgulhamos: comentários preconceituosos, piadas que já não tem graça e as pessoas que um dia pensamos que amaríamos para sempre.

Não à toa, famosos e não tão famosos tentam se livrar de rastros que revelam de pequenas imaturidades a traços egocêntricos e não muito generosos de nossa personalidade.

Quem nunca leu o próprio post de anos anteriores ou deu de cara com alguma foto e não pensou “que idiota”, que acenda a fogueira do cancelamento. Já me autocancelei algumas vezes, o que me levou a refletir sobre crenças e posicionamentos. Algumas postagens antigas no Facebook tiveram mais impacto em mim e provocaram mais mudanças do que muita sessão de terapia.

Mas e as fotos que contam minha vida amorosa? Tenho álbuns de papel com dezenas de imagens que retratam histórias que tiveram começo, meio e fim. Caixas que guardam cartas e muitas juras de amor.

Todo esse acervo do coração conta não apenas sobre as pessoas com quem dividi parte da minha existência, mas sobre mim e como fui amada e desamada ao logo do tempo. Estão lá, caso um dia eu queira revisitar momentos, emoções e quem fui um dia.

Jogar fora esse patrimônio sentimental nunca foi uma decisão natural. O destino do arquivo morto de um amor falecido era o esquecimento no fundo de um armário. Mas a vida no século 21 parece ter criados novas regras quando tudo o que sobra de um romance é seu rastro no Instagram.

A consciência nem pisca antes que o dedo mande para o lixo a memória digital e afetiva de anos daquela união que um dia foi para sempre. E assim, fazemos de conta que nossa vida não tem tropeços, decepções, fracassos amorosos, corações partidos. Exatamente como manda o figurino das vidas perfeitinhas que todos queremos desfilar nas redes sociais.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.