Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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O que falta para Bolsonaro ser banido das redes?

Redes sociais deletaram posts do presidente por compartilhar desinformação que pode causar danos à população diante da crise da Covid-19

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Twitter, Instagram e Facebook apagaram postagens de Jair Bolsonaro, nas quais ele passeia por algumas localidades do Distrito Federal, entra em estabelecimentos, conversa com comerciantes e apoiadores, o que desrespeita todas as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e também do seu próprio ministro.

A justificativa é de que o presidente compartilha desinformação que pode causar danos à população diante da crise da Covid-19.

A iniciativa é bastante significativa. Entre líderes mundiais, apenas o ditador venezuelano Nicolás Maduro sofreu esse tipo de sanção ao indicar uma bebida que poderia ser útil para curar a Covid-19. Mas ainda é pouco.

O Twitter, assim como as outras redes, parece ter hibernado nos últimos dois, três anos, e só agora percebeu o que acontece debaixo do seu nariz.

Fake news, assassinato de reputações, perseguições e linchamentos. Todo tipo de comportamento abjeto e abusivo, ignorado durante o tempo em que a rede social dos 140 caracteres voltou a ter relevância.

Em 2016, quando completou dez anos, o passarinho azul havia perdido 30% do seu valor de mercado. Havia apostas de que seu destino era o fim. Adotado pelo então candidato Donald Trump como principal meio de comunicação com seu eleitorado, atitude copiada por outros políticos, como Jair Bolsonaro, o Twitter ganhou fôlego.

Hoje, é lá que o debate público acontece e onde marcam presença, além dos representantes do povo, jornalistas, ativistas, cientistas políticos, entre outras vozes atuantes nas redes sociais.

A questão que ronda a plataforma é que, ao deixar as rédeas muito soltas, o Twitter foi conivente com o empobrecimento do diálogo e com a escalada dos discursos de ódio e a perda de controle sobre a disseminação de fake news.

Agora corre contra a própria negligência, também para se defender das críticas que só crescem e devem piorar num momento em que a desinformação ganha potencial destruidor diante da Covid-19.

No ano passado, a empresa cancelou milhares de contas em todo mundo, muitas ligadas a atividades públicas. Hoje, tem respondido a denúncias com cancelamento de contas e, novidade mais do que esperada, resolveu punir personalidades conhecidas por manipular informações, compartilhar notícias falsas, perseguir adversários políticos.

Na semana passada, deu um castigo ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ao senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) e ao blogueiro bolsonarista Allan dos Santos por terem violado suas regras.

As três contas foram bloqueadas por 12 horas porque a empresa considerou que seus tuítes poderiam “expor as pessoas a risco durante a crise do coronavírus”, conforme informou o Painel.

O YouTube, por exemplo, apagou recentemente um vídeo em que o guru bolsonarista Olavo de Carvalho colocava em dúvida a existência da pandemia de coronavírus.

O Facebook, já no ano passado, deletou uma postagem em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) divulgava nomes e fotos de jornalistas.

Ao que tudo indica, perceberam, ainda que só agora, a necessidade de adotar uma linha mais dura com autoridades que se valem da liberdade de expressão para manipular sua audiência.

Mais grave do que disseminar falsas notícias sobre mamadeira de piroca e ameaça comunista é confundir a população sobre o que precisa ser feito no meio de uma pandemia que pode deixar um rastro de dezenas de milhares de mortos no país.

Nesta segunda (30), Bolsonaro e apoiadores usaram as redes para tirar de contexto uma fala do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, para validar o discurso do presidente, que defende a volta ao trabalho.

Há centenas de postagens nas redes sociais, inclusive de pessoas públicas ligadas ao seu governo, que usam o argumento repetido por ele de que Ghebreyesus segue sua “mesma linha”.

A OMS negou que tenha mudado de direção sobre a necessidade do isolamento e seu diretor teve que ir ao Twitter reforçar a importância de que governos providenciem políticas econômicas para beneficiar a população que está sem renda.

Mas o estrago já está feito. Os bolsonaristas usam o órgão de saúde mais importante do mundo para bancar seus delírios e comprometer os esforços feitos para convencer as pessoas da importância de ficar em casa e de cobrar do governo federal o suporte para atravessar a crise da Covid-19.

Não parou por aí. Nesta quarta (1), tanto o presidente quanto seu filho, Carlos Bolsonaro, postaram um vídeo em que uma pessoa, sem identificação, mostra imagem de um galpão vazio e afirma estar no Ceasa, de Belo Horizonte. Bolsonaro critica governadores e fala em “destruição”. O desconhecido afirma que o “desabastecimento” é resultado do isolamento e vem com um discurso que se encaixa na retórica bolsonarista de que vai faltar comida e haverá caos.

A reportagem da CBN esteve no local e checou que está tudo normal. O vereador Gabriel Azevedo (sem partido) também postou fotos que mostram exatamente o contrário do que Bolsonaro quer fazer acreditar.

Os episódios mostram que não adianta apagar posts, congelar contas por algumas horas. Gente com a mesma postura de Bolsonaro e de seus apoiadores deveria ser banida das redes sociais. O que falta para que Twitter, Facebook, YouTube e Instagram cancelem essas contas para sempre?

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