Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Sequelada de Covid-19

Meus exames mostram uma pessoa saudável, mas não me sinto assim

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Sinto sono e cansaço o tempo todo. Não é só maneira de dizer. Eu sinto sono e cansaço o tempo todo desde que tive Covid-19. Fui infectada há pouco mais de três meses e tive os sintomas da pior gripe da vida, mas com exceção da semana em que passei atropelada pela doença, todos os meus exames mostram uma pessoa saudável. O problema é que não me sinto assim.

Pensei que pudesse ser muito trabalho, estresse acumulado de um ano que certamente deixou marcas na maioria das pessoas. Mas quanto mais eu durmo, mais sono tenho. E mesmo que tenha dormido muitas horas numa noite, fico sonolenta ao longo do dia. Na maior parte das vezes, é como uma leve ressaca, mas em alguns episódios é como se tivesse sido privada de descanso por dias. Não sei mais como é a sensação de renovação que temos depois de uma noite bem dormida. Acordo com sono.

Síndrome pós-Covid, pelo que tenho lido. Não bastasse os cientistas estarem debruçados no desenvolvimento de vacinas eficientes, têm que lidar com as sequelas que o vírus deixa. O que era dúvida tem se revelado como certeza: a loteria da gravidade da doença se prolonga em relação ao rastro de destruição que ela pode deixar no corpo. Tem gente que não sente nada e também não guarda lembrança da contaminação. Não tive essa sorte.

Um estudo de um grupo de cientistas chineses foi publicado na renomada The Lancet e mostra que 76% dos pacientes relataram pelo menos um sintoma contínuo no semestre seguinte à saída do hospital. Não precisei de internação, felizmente, mas estou há três meses sem olfato, além da fadiga crônica e dos distúrbios de sono.

Dos pacientes sequelados, 63% das pessoas reclamaram de cansaço e fraqueza muscular, 26% de dificuldade para dormir e 23% de ansiedade e depressão. Entre os casos mais graves, 56% apresentaram função pulmonar reduzida. E tem quem repita que é uma gripezinha. É uma doença que mata, que estropia o organismo e não sabemos ainda se esses efeitos são reversíveis e o pode acontecer a longo prazo.

Não há muito o que fazer, pelo menos por enquanto. Os cientistas que participaram desse trabalho dizem que são necessários estudos de acompanhamento mais longos e com grupos maiores de pessoas para compreender todo o espectro de efeitos da Covid-19 nas pessoas.

Estou com os exames em dia. Tenho me exercitado, do jeito que consigo. Incluí em minha rotina fisioterapia para o olfato. Cuido da alimentação e continuo tomando todos os cuidados com medo de uma reinfecção.

De tudo o que tenho sentido, a perda de olfato é o que atrapalha menos o meu dia a dia, mas é o que tem os maiores efeitos psicológicos. A única parte boa é não perceber o odor da caixa de xixi dos gatos. Mas até isso faz falta na rotina. Lixo, comida estragada, qualquer coisa que possa sinalizar “perigo”, estão longe do alcance do meu nariz. Mas, pense em como é viver sem sentir qualquer aroma. O cheiro do café quentinho, do almoço ficando pronto, do cangote do meu marido ao acordar. É perfume de vida. E a gente acaba perdendo a parte dela que tem muito mais graça quando tem cheiro.

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