O ombudsman da Folha em sua coluna semanal disse que a imprensa está de mau humor com Lula. José Henrique Mariante traz um levantamento e mostra como reportagens e colunas têm tratado as primeiras semanas do presidente eleito e as notícias sobre a transição.

Concordo que o estado de espírito, em especial nos editoriais e nas colunas de opinião, possa parecer antipatia gratuita. Às vezes é, mas percebo também um reposicionamento necessário. Depois do período Bolsonaro que, dos bastidores, ainda tenta dar uma rasteira na democracia, há uma urgência em voltar a tratar do que de fato é importante agora que, espero, estamos novamente entre adultos.

Os bolsonaristas passaram quatro anos com uma reclamação mais abrangente. Imprensa, adversários políticos e a maioria da população teriam torcido para que a gestão Bolsonaro não desse certo. O mimimi faria algum sentido se tivesse havido governo. Nunca houve. Tivemos arruaça, vagabundagem, negligência e incompetência. Neste apagar das luzes do Planalto, temos só a vagabundagem, o que é um alívio. Não havia pelo que torcer, Bolsonaro jogou contra o país e contra si porque é de sua índole destruidora.

Parte da imprensa ainda está com o modo "defesa" acionado. Jornalista, embora não pareça, também é gente, e todos ficamos um pouco loucos nos últimos tempos. É um momento sensível. Uma cobertura crítica deve ser equilibrada, mas qualquer julgamento sempre soará rabugento e injusto aos olhos de quem vira vidraça.

Dito isso, torço para que o governo Lula dê certo, que o presidente eleito honre a defesa que fez da imprensa livre, das instituições e o compromisso com a pacificação e a reconstrução do país. Torço por Lula como faria por qualquer outro que derrotasse Bolsonaro. Criticarei o governo independentemente de quem seja. Muitas vezes, o leitor poderá achar que estou de má vontade. Acontece. Podem me amolar.