Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Descrição de chapéu Ásia

Olimpíadas de Inverno em Pequim serão das mais restritas da história

Normalidade só nos Jogos de Verão de Paris-2024, se a pandemia permitir

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Não me esqueço do olhar do policial japonês na porta do meu hotel. De máscara, não dava para ver se sorria ou não. Não trocávamos uma palavra, mas nós dois sabíamos para que servia a prancheta em cima da mesa dele.

Nos primeiros dias de cobertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio, eu tinha que escrever nela a hora que saía e voltava para o quarto.

Precisava usar dois aplicativos de celular: um avisaria se um contato próximo recebesse diagnóstico positivo para Covid-19 e o outro registrava a temperatura corporal e sintomas. Testes PCR eram a cada quatro dias.

Nas primeiras duas semanas, era proibido pegar transporte público e ir a restaurantes.

Terminados os Jogos Olímpicos de Verão, em Tóquio, os chineses se preparam para receber os Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim - Tingshu Wang - 30.mar.21/Reuters

Achou restrito? Nas próximas Olimpíadas, vai ser pior.

Os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim vão de 4 a 20 de fevereiro e os Paralímpicos de 4 a 13 de março. Esta semana, a chama olímpica foi acesa na Grécia antes de seguir para a China. E houve protestos de grupos de defesa de direitos humanos contra os chineses. Já era esperado.

Antes dos Jogos de Verão de Pequim, em 2008, houve manifestações e ameaças de boicote. Este é o menor dos problemas dos organizadores.

É difícil saber a estratégia de um lugar fechado como a China, mas é de se esperar que vão tentar ao máximo sediar um evento seguro e que não prejudique a imagem do país.

Com fronteiras praticamente fechadas na pandemia e tolerância zero com novos casos, como impedir que a entrada de milhares de atletas, jornalistas, árbitros, oficiais e autoridades gere um surto de coronavírus?

Uma das formas é isolar os visitantes do restante da população de 1,4 bilhão de pessoas e tornar a ida de não imunizados quase impossível.

Segundo o Comitê Olímpico Internacional, quem estiver completamente vacinado entrará em uma bolha e só poderá hospedar-se, comer e trabalhar dentro dela. Testes de Covid devem ser diários. Quem não tiver tomado as duas doses precisará fazer 21 dias de quarentena, com exceções médicas analisadas caso a caso.

Tanto tempo sem condições ideais de treino antes da principal competição da vida é algo praticamente inviável para um atleta e uma dor de cabeça logística para delegações. Em esportes como bobsled, skeleton e luge, é questão de segurança se familiarizar com as pistas de altíssima velocidade.

Se no Japão o visitante podia circular normalmente depois de 14 dias, na China o regime deve ser restrito o tempo todo. O lado positivo é que se Tóquio teve arenas vazias, Pequim vai permitir público local.

A primeira versão do código de conduta dos participantes será divulgada em breve, mas os Estados Unidos se anteciparam. O Comitê Olímpico e Paralímpico anunciou que a equipe americana precisa estar completamente vacinada até 1º de dezembro e que vai reforçar o apoio psicológico. O confinamento e a falta de contato com familiares e torcedores pode afetar a saúde mental dos atletas.

Organizadores das próximas Olimpíadas de Verão, em Paris, prometem uma atmosfera bem diferente. Dia 31 de outubro, uma corrida de rua com o queniano bicampeão olímpico Eliud Kipchoge na capital francesa vai divulgar o evento e dar o tom que os anfitriões querem em 2024: público e festa. Se a pandemia permitir, teremos Jogos normais novamente em pouco menos de três anos.

Enquanto isso, é importante lembrar quem são os protagonistas dessa história. As Olimpíadas são feitas para os atletas. Com restrições ou não, é o sonho de qualquer competidor. Foi assim em Tóquio, será assim em Pequim.

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