Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Legado dos Jogos Olímpicos de Barcelona está vivo 30 anos depois

Andar pela cidade hoje é comprovar o sucesso das Olimpíadas de 1992

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Em um dia de calor escaldante de agosto, em pleno verão espanhol, um professor leva estudantes para visitar o estádio olímpico. Em frente, há uma ampla esplanada onde também fica um ginásio, o Palau Sant Jordi. Amigas passeiam com os cachorros, e um deles mergulha, feliz da vida, em um lago para se refrescar. Dois senhores, ensopados de suor, divertem-se jogando "frontón" ou "paredão", parecido com squash. Turistas, como eu, caminham e tiram fotos. A área é aberta ao público, e o acesso é gratuito.

Há 30 anos, este era o coração dos Jogos Olímpicos de Barcelona, um dos mais bem-sucedidos da história em termos de legado. Depois de passar alguns dias na cidade, não tenho dúvidas de que a ideia deu certo. Minha primeira memória olímpica foi ver pela televisão o ouro da seleção masculina de vôlei no Palau Sant Jordi. Por isso, foi uma feliz coincidência estar lá exatamente três décadas depois.

Palau Sant Jordi, um dos palcos dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992
Palau Sant Jordi foi palco de conquista histórica do Brasil - Marina Izidro/Folhapress

Em 17 de outubro de 1986, o então presidente do Comitê Olímpico Internacional, o espanhol Juan Antonio Samaranch, anunciou Barcelona como sede dos Jogos de 1992. Foi o catalisador de uma gigantesca transformação.

A zona portuária foi revitalizada e se tornou um dos lugares mais animados da cidade, com bares e restaurantes. Houve investimento em infraestrutura viária e em telecomunicações, construção de parques e praças, restauração de monumentos históricos. Um estudo de arquitetos e urbanistas sobre as futuras necessidades de Barcelona ajudou na escolha do local de construção de algumas arenas olímpicas, junto com o incentivo à prática de esportes.

Nem tudo foi feito do zero. O estádio das cerimônias de abertura, encerramento e atletismo, por exemplo, é de 1927 e foi reformado. Um guia me explicou nesta semana que o mundo descobriu Barcelona graças às Olimpíadas, e moradores criaram o hábito de ir à praia, área que antes era degradada. "De repente, começamos a ver turistas indo à Sagrada Família, não era tão comum." Só no mês passado, a cidade recebeu mais de um milhão de visitantes.

O então prefeito, Pasqual Maragall, dizia que existem dois tipos de Jogos: os que se utilizam da cidade e aqueles em que a cidade se utiliza deles. O "modelo Barcelona" serviu de inspiração para futuras candidaturas olímpicas, como a do Rio, que tentou imitar bons exemplos. Pena que, em muitos aspectos, nossos políticos não aprenderam a lição deixada pelos espanhóis.

Estádio Olímpico Lluís Companys, um dos palcos dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992
O Estádio Olímpico Lluís Companys é de 1927 e foi reformado para receber a abertura e o encerramento dos Jogos Olímpicos de 1992 - Marina Izidro/Folhapress

Com investimento nos atletas, a Espanha saltou de quatro medalhas em Seul-1988 para 22 nos Jogos em casa, 13 de ouro. Foi uma edição olímpica que refletiu a nova ordem mundial: unificação da Alemanha, dissolução da União Soviética e retorno da África do Sul à lista de participantes, com o fim do apartheid.

Foi a chance de ver o "Dream Team" do basquete americano em ação e uma das cenas mais comoventes da história olímpica, quando o britânico Derek Redmond se lesionou nos 400 m com barreiras e o pai dele invadiu a pista para ajudar o filho, que chorava de dor, a terminar a prova. Hoje, um museu ao lado do estádio olímpico relembra momentos marcantes dos Jogos com fotos, vídeos e objetos.

Barcelona-1992 foi um projeto dos sonhos que, claro, teve problemas, como em qualquer edição. Mas espero que os estudantes com quem cruzei tenham aproveitado a visita, porque o verdadeiro legado olímpico é o que a população vê ao vivo e usufrui, anos depois. Sensação que não dá para ser replicada na sala de aula, nem nos melhores livros de história.

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