Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Marina Izidro
Descrição de chapéu surfe skate União Europeia

A relação de amor e ódio entre britânicos e a União Europeia na diplomacia ou no esporte

Brexit deixou mais burocrática a contratação de estrangeiros para a Premier League, enquanto franceses tentam proteger seu idioma para Paris-2024

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Ah, o Brexit. A saída do Reino Unido da União Europeia pode parecer coisa do passado, mas gerou tantos problemas que sempre volta para nos assombrar. Nesta semana, o tema retornou às manchetes porque foi anunciado um acordo entre britânicos e o bloco europeu para tentar acabar com um impasse no comércio entre os dois lados e proteger as relações entre Irlanda do Norte –parte do Reino Unido– e República da Irlanda.

Como o assunto é complicado, pouparei a leitora e o leitor dos detalhes. Mas o que também chamou a atenção no dia foi o tratamento exageradamente amistoso entre o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já que o clima anda ruim desde o plebiscito do Brexit de 2016.

Não que a relação de amor e ódio entre britânicos e vizinhos europeus seja novidade. Na política ou no esporte, vira e mexe eles se bicam.

Premiê britânico, Rishi Sunak, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se cumprimentam durante conferência em Londres - Dan Kitwood - 27.fev.23/Pool/AFP

Com slogans nacionalistas sobre recuperar o controle do país, o Brexit acabou com benefícios de ser parte deste clube seleto. Por exemplo, a livre circulação de pessoas dentro da União Europeia. Antes, europeus podiam viver e trabalhar no Reino Unido sem precisar de permissão, e vice-versa. Desde que o divórcio entrou em vigor, novos moradores necessitam de visto. Isso afetou o esporte, deixando o processo de contratação de jogadores e treinadores estrangeiros no futebol inglês mais restrito e burocrático.

Há algumas semanas, durante mais uma tentativa de criar a Superliga Europeia –torneio paralelo que competiria com a Champions–, parte da imprensa esportiva inglesa disse que alguns clubes europeus insistem na ideia porque querem dinheiro e têm inveja do sucesso da Premier League.

A um ano e quatro meses dos Jogos Olímpicos de Paris, autoridades francesas estão preocupadas com a preservação de seu idioma e com o excesso de anglicismos. A Academia Francesa, espécie de guardiã da língua, criada em 1635, criticou o fato de o slogan de candidatura olímpica "Made for Sharing" ter sido anunciado ao mundo primeiro em inglês, e o comparou a uma propaganda de pizza: "Os idiomas oficiais do Comitê Olímpico Internacional são o francês e o inglês –nesta ordem".

E o governo criou um grupo de trabalho para traduzir para o francês termos técnicos usados em esportes que entraram recentemente no programa olímpico, como breaking, escalada esportiva, surfe e skate. A ideia é ajudar atletas e espectadores a entenderem melhor as regras e, de quebra, manter o inglês o mais longe possível.

Em 2020, um veículo de imprensa se deu ao trabalho de cronometrar um importante discurso de von der Leyen. A presidente da comissão europeia, nascida na Bélgica, falou em francês por 3min50, em alemão por menos de 10 minutos e em inglês por 63 minutos! Pierre de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna, era francês. Mas o esporte, assim como a diplomacia, é um ambiente globalizado e o inglês domina a comunicação entre competidores e espectadores.

Por eu ter nascido em um país que não tem o inglês como idioma nativo, entendo a irritação de alguns franceses quando um americano ou britânico visita a França e nem tenta arranhar alguma frase na língua local, supondo que todo mundo tem que entender e falar inglês. Também respeito o fato de tentarem preservar seu idioma, e veremos o quanto vão conseguir. Coubertin certamente nem sonhava que um dia le breaking e le skateboarding seriam esportes olímpicos em sua cidade natal.

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