Trabalhou na "Tribuna da Imprensa", em "O Globo" e "O Estado de S. Paulo" antes de ingressar na Folha, em 1991. Passou pelo agora extinto "Folhateen", foi colunista de "Esporte", repórter especial e ombudsman por um ano.
Os bancos saíram bem na fita
A reportagem "Bancos encabeçam lista de investimento em cultura", publicada no caderno Dinheiro da quarta-feira, tinha alguns problemas.
Um deles era relacionar Banco do Brasil, Petrobras e Eletrobrás como instituições privadas. A falsa "privatização", corrigida em "Erramos", foi o de menos. Abrindo mão do espírito crítico que deve norteá-la, a Folha divulgou os resultados de uma pesquisa de modo que os bancos pareceram mecenas generosos quando às vezes estão longe disso.
Estudo do Grupo de Institutos Fundações e Empresas mostrou que, dos dez maiores "investidores em projetos culturais" em 2005, cinco foram bancos (Bradesco, Banco do Brasil, Banco do Estado do Paraná, Itaú e Unibanco).
Relatou o texto: "Os investimentos em cultura [das empresas associadas ao Gife] aparecem em terceiro lugar, atrás de educação e desenvolvimento comunitário".
As palavras se repetiram: "investidores", "investimentos", "investiram". Nada se leu sobre "isenção fiscal", "renúncia fiscal" ou o eufemismo "incentivo fiscal".
A reportagem omitiu dado elementar sobre as operações culturais das grandes empresas: são poucos os "investimentos", negócios com risco. Há patrocínio, freqüentemente com dinheiro do Estado.
Não se trata de ser contra ou a favor, mas de informar o leitor para que ele possa tirar suas conclusões.
Como o jornal costuma noticiar, há leis de incentivo fiscal por meio das quais as empresas podem deduzir parcelas de impostos para aplicar em cultura. Elas deixam de recolher tributos e os destinam a patrocínios que promovem suas bandeiras.
Se dentro da lei, é tudo legal. Só que o jornal precisa avisar. Do contrário, os bancos saem melhor na fita do que deveriam. Os leitores não souberam que muitas empresas financiam projetos com a Lei Rouanet de incentivo.
Um bom antídoto para a Folha evitar tropeços assim é se inspirar no seu "Manual da Redação", em cujo verbete "Jornalismo crítico" se lê: "O jornal não existe para adoçar a realidade, mas para mostrá-la de um ponto de vista crítico".
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