Foi jornalista da Folha de 1984 a 1999, onde foi diretor da Sucursal de Brasília, secretário de Redação, repórter especial, editor da "Revista da Folha" e ombudsman em dois períodos, de 1991 a 1993 e em 1997.
Perigos eleitorais do Collorgate
A menos de um mês do primeiro turno das eleições para prefeito não se pode dizer que a Folha tenha, a rigor, entrado no assunto. Há leitores, como a produtora cultural Gláucia de Castro Pimentel, que têm telefonado para queixar-se da falta de informações sobre o programa dos candidatos. No caso de Gláucia Pimentel, ela desejava que a Folha informasse as propostas dos candidatos à Prefeitura de São Paulo na área cultural. Gláucia teve seu desejo satisfeito ontem na capa Ilustrada.
Pode-se alegar que a Folha não é solitária nesse alheamento. Afinal, com um tema como Collorgate a ocupar manchetes em todo o mundo e a incrementar a tiragem da Folha de 10% num período de dois meses, quem quer saber de campanha para prefeito e vereadores?
Eleições locais têm sido oportunidades de que os jornais se utilizam para tentar reforçar seu vínculo com as comunidades, para ampliar o debate sobre políticas públicas, a partir da idéia de que leitores de jornal estão em extinção porque na verdade os cidadãos são uma espécie cada vez mais ameaçada pela pobreza, a alienação, a pulverização de interesses e o analfabetismo.
A esse respeito o recente crescimento da Folha é um indício de que apego a cidadania e interesse por informações andam no mesmo passo. Ocorre que a expectativa em torno do desfecho do Collorgate é tamanha que o assunto condiciona e até limita a possibilidade de realmente se checar a fundo as propostas dos candidatos para a administração das aberrações urbanas que se transformaram as cidades brasileiras.
Por paradoxal que pareça a sobreposição de temas relevantes, como o tráfico de influência e a corrupção no governo federal acabam dando chance para a demagogia no plano municipal. Percebendo que a eleição está muito polarizada pela possibilidade inédita do impeachment, os candidatos aproveitam para omitir definições claras, para propor soluções superficiais e fáceis para problemas muito mais complexos e para "pendurar" seu programa a generalidades relativas a problemas federais. Absoria em Brasília, a população tem menos oportunidades de testar a fundo as reais intenções dos candidatos.
ELEIÇÃO ATRASADA
A Folha atrasou toda a sua cobertura das eleições em razão do Collorgate. Salvo engano, nem mesmo as biografias dos candidatos em São Paulo foram publicadas. A situação chega perto do limite e pode a logo prazo afetar a credibilidade do jornal, que será cobrado por não ter tratado com empenho o noticiário eleitoral.
E às pesquisas eleitorais do DataFolha que o jornal tem limitado seus esforços até agora. Mais do que um participante ativo da campanha, levantando incoerências e investigando debilidades, o jornal tem mantido uma atitude contemplativa.
Mesmo no terreno das pesquisas, levantam-se insatisfações. Recebi esta semana mensagem de Mauro Malin, coordenador de comunicação da campanha de Aloysio Ferreira (PMDB) à Prefeitura de São Paulo. Malin reclama, dentre outras coisas, da maneira como, segundo ele, as edições da Folha do fim de semana passado falharam em detectar o (?) do apoio eleitoral do candidato peemedebista.
Malin diz que o título da primeira reportagem -"TV não modifica disputa em SP"- está em contradição com o que está no 2º parágrafo da notícia: "em relação à pesquisa anterior, Maluf perdeu dois pontos percentuais e Suplicy ganhou um". Argumenta ainda que o jornal, neste ponto da reportagem, poderia ter também assinalado que Aloysio subiria três pontos em relação ao levantamento anterior. Afirma que, por isso, a edição teve conotação política favorável a Paulo Maluf.
O comando da redação da Folha discorda da argumentação de Malin. A secretária de redação, Eleonora de Lucena, defende o jornal dizendo que o coordenador Malin está fazendo seu trabalho de defesa do candidato, mas que a Folha tem se mantido distanciada de todos os postulantes. Acrescenta que esse tipo de crítica costuma vir de todos os candidatos ao longo dos anos.
É muito subjetiva a avaliação do tom político de que se revestiu a edição da pesquisa citada. A favor da Folha, deve-se registrar que não houve mudanças nas colocações dos candidatos naquela pesquisa em relação a anterior e que mesmo as flutuações havidas estavam dentro da margem de erro da consulta.
Mas é inegável também que já naquele levantamento surgiam indícios mais sérios da previsível ascensão da candidatura de Aloysio e de declínio da larga dianteira de Maluf. As duas tendências se confirmaram mais claramente em nova pesquisa DataFolha publicada no jornal de anteontem.
É difícil saber se no caso em questão a ausência de um registro mais claro daquele movimento de opinião dos pesquisados se deve à prudência excessiva da parte do jornal ou a um cochilo editorial ou a discriminação política. Mas o fato é que o jornal perdeu a chance de antecipar um furo, cuja emissão de elementos consistentes para a reclamação vinda do candidato apoiado por Quércia e Fleury.
ALTA E BAIXA
BAIXA para "O Globo" que escondeu na página 22 de sexta-feira uma pequena nota sobre o depoimento de várias horas dado no dia anterior pelo governador baiano Antônio Carlos Magalhões à CPI que investiga a participação num esquema para sufocar a empresa NEC e facilitar sua aquisição, em 1986, pelo empresário Roberto Marinho, proprietário do jornal carioca.
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