Foi jornalista da Folha de 1984 a 1999, onde foi diretor da Sucursal de Brasília, secretário de Redação, repórter especial, editor da "Revista da Folha" e ombudsman em dois períodos, de 1991 a 1993 e em 1997.
A Folha distribui camisinhas
A Folha começou a semana distribuindo camisinhas em seu suplemento destinado ao público adolescente e orientando os leitores sobre como usá-las. O Folhateen deu 404.717 ( a tiragem da Folha naquele dia) preservativos Jontex, as camisinhas, colados na capa do caderno que sai às segundas feiras.
A manchete do Folhateen daquele dia tinha tom de campanha. "Use a fantasia". O subtítulo dizia: "Aproveite este Carnaval para se convencer de que a melhor forma de se prevenir contra Aids é usar camisinha". Na mesma página, um quadro, em cinco colunas, ensinava em detalhes o uso do preservativo. O desenho mostrava um pênis em ereção.
A iniciativa causou um certo furor. Agências internacionais produziram reportagens a respeito. Rádios elogiaram. Catorze leitores entraram em contato comigo para manifestar sua opinião. Três elogiaram a iniciativa pedagógica, onze criticaram-na> os componentes desse último grupo em geral qualificavam a iniciativa e seus autores de "sem-vergonhas", "vulgares", "incentivadores da prostituição juvenil" e "ateus".
O foco das críticas era a distribuição do preservativo e a mensagem instando a que ele seja utilizado no Carnaval. Alguns declaravam que era boa a intenção de se prevenir a contaminação através de orientação aos jovens, mas que a distribuição da camisinha era desnecessária.
Os três leitores que apoiaram fizeram elogios ao fato de o jornal apresentar instruções claras para a prevenção da Aids e de maneira interessante para os jovens. Houve quem destacasse o aspecto de que o jornal transmitia uma visão preconceituosa e atemorizadora do sexo, presente em outras campanhas de prevenção.
Por rás do temos de alguns pais, de que o jornal esteja estimulando a prática sexual dos jovens, há mais uma questão, para a qual não conheço estudos conclusivos. Podem os meios de comunicação ser co-responsabilizados por influenciar atitudes de seus leitores ou espectadores? O (a) jovem que recebe uma camisinha sente-se por isso estimulado (a) a fazer sexo? Ou, de outra maneira, quem assiste filmes violentos na TV é incitado a repeti-los?
A proximidade com situações delicadas no campo da moral é o que na Folha mais causa repulsa em alguns leitores e fascina outros. Consciente disso, a Folha tenta sempre adentrar esses temas difíceis e, na Folha o caderno Folhateen é quem faz isso com maior agressividade e competência.
A edição do Folhateen expressa o incentivo da Folha a uma "boa causa", por assim dizer, justo num tema que continua a ser tabu pra muitos, apesar de a discussão do sexo nos meios de comunicação não ter a mesma carga transgressora que tinha nos anos 60. Não deixa de ser irônico também o fato de que o jornal ligar-se a uma "boa causa", de maneira, porém tão perversa para seus leitores mais conservadores. Estes são os que mais cobram uma atitude positiva do jornal no sentido de incentivar bons exemplos e de abraçar campanhas edificantes, as quais a Folha sempre encara com distanciamento.
É em episódios como esse que um jornal forma sua imagem junto ao público. Enquanto isso, os concorrentes assistem sem alternativa à altura o crescimento da Folha entre a relativamente pequena parcela do público jovem que se interessa pela leitura de jornais.
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