Foi jornalista da Folha de 1984 a 1999, onde foi diretor da Sucursal de Brasília, secretário de Redação, repórter especial, editor da "Revista da Folha" e ombudsman em dois períodos, de 1991 a 1993 e em 1997.
Ombudsmen debatem racismo e viés anti-Bush
Minorias, escândalos políticos, ética, difamação, crimes sexuais, cartoons politicamente incorretos, o cerco aos adeptos do ramo davidiano em Waco (Texas) e até a cobertura do Collorgate foram os principais temas da conferências anual da Organization of News Ombudsmen (ONO), realizada de domingo a quarta-feira passada na Universidade de Maryland (EUA).
Dentre os 34 participantes (três canadenses, um israelenses, um japonês, eu e o restante dos EUA), houve consenso quanto à excepcional qualidade desta conferência.
Com a ajuda de Jean-Griffith Thomas (jornalista negra, editora na revista dominical do "Baltimore Sun") e John Rivera (repórter de origem hispano-norte-americana) evidenciou-se a falta de racionalidade da cobertura para as minorias raciais no jornalismo americano.
É bem disseminada em alguns jornais, por exemplo, a "obrigação" (que não está escrita em lugar nenhum) de que se publique uma reportagem por dia sobre temas raciais no mês de janeiro, dedicado à memória do líder negro Martin Luther King. As reportagens são publicadas mesmo que não tenham novidade ou interesse, ou seja, o antijornalismo impera.
Enquanto isso, a rotina da cobertura jornalística continua discriminatória. A exemplo do que ocorre no Brasil, suspeitos negros ou latinos de baixa renda têm mais chance de ter sua foto publicada num jornal norte-americano do que uma pessoa branca de classe média. Á sombra das homenagens formais, o racismo segue imperando.
O tema suscitou discussão a respeito da validade da publicação de qualquer foto de pessoa suspeita de praticar crime. Há jornais que adotam a política de não revelar o nome de nenhum acusado antes que surjam evidências, com exceção apenas nos casos em que o suspeito seja uma figura pública. No caso desses jornais, a política é de que vale mais omitir o nome de dez criminosos do que correr o risco de difamar um inocente.
SACRILÉGIO
Apesar de a imprensa dos EUA desmanchar-se em elogios a si mesma pela cobertura das eleições, esta mão é a opinião do professor Larry Sabato, da Universidade de Virginia. Em palestra via satélite para os ombudsmen. Sabato disse que nos últimos quinze dias da disputa a qualidade da cobertura regrediu ao estilo "corrida de cavalos", imbatível também no Brasil.
"Corrida de cavalos" é expressão usada para designar as coberturas eleitorais em que a ênfase principal está no acompanhamento das pesquisas de intenção de voto.
Pior que isso, diz Sabato, foi a facilidade com que os jornais sérios se deixaram conduzir pela imprensa sensacionalista. No caso de Jennifer Flowers, a suposta amante de Bill Clinton, grandes jornais abriram manchetes para o caso com base apenas em edições escandalosas dos tabloides "News of the World" e "New York Pst".
SENSACIONALISMO
Sabato acha que os jornalismo têm uma influência real para direcionar o debate para esta ou aquela direção, mas que frequentemente usam esse poder no sentido mais sensacionalista, superficial, menos esclarecedor a respeito dos temas que estão em jogo numa eleição.
Em oposição à mare atual. Sabato advoga que a mídia faça uma cobertura seletiva da vida das figuras públicas, inclusive dos candidatos. Assuntos pessoais controversos só deveriam vir à tona quando o tema pudesse ter alguma relevância para o desempenho do candidato no cargo que disputa.
A falta de limites que caracteriza a era atual permitiu o "sacrilégio do salão oval" na eleição passada, quando pela primeira vez um presidente do Estados Unidos (Bush) foi submetido à pergunta " Você já cometeu adultério?", sem que houvesse solida evidencia a respeito, a não ser um rumor extraído de uma nota de pé de página de livro publicado em 1981 que usa como fonte uma pessoa já morta.
VAIAS PARA O ÍNDICE
Para completar, os jornalistas (cuja maioria e formada de liberais ou esquerdistas ou ligados ao Partido Democrata) são acusados de enviesar o noticiário contra Bush.
Há uma semana da eleição, a divulgação de um índice de crescimento do GDP de 2,7% foi subestimada pela imprensa em geral, embora apontasse uma inequívoca recuperação. Segundo Sabato, os jornalistas duvidaram do número e chegaram a vaiar seu anúncio na entrevista coletiva. Hoje sabe-se que o índice fora subestimado também pelo governo, tendo sido na realidade de 3,4%. Domingo que vem eu conto mais sobre a reunião da ONO.
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