Foi jornalista da Folha de 1984 a 1999, onde foi diretor da Sucursal de Brasília, secretário de Redação, repórter especial, editor da "Revista da Folha" e ombudsman em dois períodos, de 1991 a 1993 e em 1997.
O plebiscito também derrota a imprensa
Ao contrário do otimismo expresso no início do ano nesta coluna, a cobertura do inédito plebiscito de quarta-feira que vem não representou qualquer desenvolvimento perceptível no jornalismo político-eleitoral. Mesmo nos jornais que, como a Folha, demonstraram empenho em dar ao assunto alguma importância, predominaram apatia, desinteresse e acomodação.
Deslocada e extemporânea, era justamente o caráter incomum dessa cobertura que oferecia a chance para que se criasse algo de novo. É natural que o interesse gerado em torno de um debate sobre o sistema e forma de governo concentre-se nas elites nas elites e, daí, irradie para sociedade, ou seja, era plausível esperar que as discussões do plebiscito tivessem palco privilegiado nos jornais, a principal fonte de informação das elites políticas, econômicas e sindicais.
Além disso, por suas características, o rádio e a televisão são veículos mais próprios a um registro imediato e emocional (embora no Brasil algumas emissoras exorbitem), enquanto os jornais se adaptam melhor a temas que exigem trocas de argumentos, comparações e proselitismo mais fundamentado.
Pode-se não gostar que seja assim, mas não há outra atitude construtiva de se abordar os temas do plebiscito senão a de quem pondera paciente e metodicamente prós e contras de cada uma das opções. Esse não é muito o jeito brasileiro de noticias. E não apenas por responsabilidade de jornais e jornalistas, mas também pelo que se pode perceber da receptividade do próprio público. Foram raríssimas as mensagens que recebi para comentar a cobertura do plebiscito na Folha. Nenhuma na semana passada, por exemplo.
Antes de aproveitar a vantagem relativa de que dispunham os jornais se acomodaram a um estilo rotineiro de cobertura eleitoral, que já mostra sinais de esgotamento, talvez porque fuja do exame dos temas envolvidos e dependa em excesso das pesquisas de opinião (a cobertura estilo "corrida de cavalo", como dizem os americanos).
A partir do momento em que as intenções de votos nos presidencialistas disparam à frente dos parlamentaristas, quando o interesse pela dança dos números arrefeceu, o apelo do plebiscito evaporou-se e levou consigo o interesse dos meios de comunicação pelo assunto.
Esforços mais enérgicos contra o marasmo partiram desta Folha, com seus cadernos especiais e editoriais de adesão ao parlamentarismo na primeira página. Embora com repercussão limitada, desenvolveu-se também um rico debate na seção de Tendências/Debates envolvendo político, intelectuais e outras parcelas da sociedade civil.
A fora isto, nas página desta Folha e da imprensa prevaleceu a reprodução de quadros sobre o programa eleitoral da noite anterior na TV acompanhados. De curtos depoimentos de políticos e empresários sobre a opção que fariam na consulta de quarta feira. E só.
Nessas condições preponderaram os slogans, consolidaram-se preconceitos, difundiram-se mistificações. Em vez de influenciar TV e rádio, o jornal deixou-se dirigir pela dinâmica massificante e emburrecedora na campanha eletrônica.
É difícil saber se poderia ser de outro jeito, mas ficou uma experiência negativa a ser considerada em futuros processos de escolha eleitoral. Estes acabarão se precipitando caso a sociedade (a imprensa incluída) permita que alguns políticos subam no palanque para fugir da cobrança em relação a seus governos, unindo-se a outros que a rigor nunca desceram de lá.
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