Foi jornalista da Folha de 1984 a 1999, onde foi diretor da Sucursal de Brasília, secretário de Redação, repórter especial, editor da "Revista da Folha" e ombudsman em dois períodos, de 1991 a 1993 e em 1997.
Lua-de-mel
O fato jornalístico da semana foi o anúncio do chamado "Plano Verdade" do ministro Fernando Henrique Cardoso, ou "FHC", como dizem as manchetes de jornais. O ministro conseguiu algo cada vez mais inédito na mídia brasileira, uma unanimidade a favor do que não passou de uma manifestação de intenções bem parecida com as de muitos de seus antecessores.
É curiosa essa atitude favorável ao ministro Fernando Henrique e a seu plano. Ela parece, sintomaticamente, reeditar o período de lua-de-mel que às vezes se estabelece entre imprensa e novo "governante". Mas talvez esse otimismo seja irreal e tenha mais a ver com as inclinações e desejos de jornalistas e jornais do que propriamente com as possibilidades de sucesso da nova estratégia econômica.
A torcida por FHC (o equivalente social-democrata ao direitista "ACM", o único político que tinha o privilégio de ter seu nome transformado em sigla) é também reflexo do evidente fascínio que a figura do ministro por vários motivos exerce nas redações. O perigo é que o namoro acabe se transformando em adesismo e prejudique uma apreciação realista, crítica, distanciada do programa econômico.
Todo anúncio de um "plano" acaba se confundindo com um evento em que a mídia é usada para "inverter' as expectativas dos agentes". Convoca-se reunião ministerial e cadeia nacional. Seguem-se as promessas e ameaças de sempre. Nos noticiários da televisão, predomina o tom de press-release. O público espera então que os jornais e revistas digam a verdade, analisem o que não foi dito nos pronunciamentos, explorem inconsistências, restrinjam o voluntarismo característico desses momentos.
A atitude de boa-vontade da imprensa adapta-se muito bem a uma correção de rumo que muitos veículos vêm tentando fazer para apagar a imagem de pessimismo que caracterizou o período posterior ao Collorgate, quando jornais e revistas, estimulados pelos sucessos obtidos, estiveram coalhados de denúncias com tom apocalíptico que os fatos na maioria dos casos não amparavam.
Se o período anterior revelou pouco apego a uma avaliação correta de relevância dos fatos, uma tendência ao exagero dos aspectos negativos, a cobertura do Plano Verdade agora parece pecar pelo defeito oposto. Não se pode também subestimar o efeito que a existência de um ministro paulista na Fazenda exerce sobre as expectativas, embora o que tenha ficado claro seja a escassez de condições políticas e econômicas do governo federal para obter o almejado equilíbrio orçamentário.
Pode ser que exista mais do que corretas intenções (já manifestadas por outros ministros) e simpatia ideológica a justificar o otimismo na mídia em relação ao plano FHC. Isso, porém, só o tempo dirá. Até agora, a sensação que fica é de que a imprensa baixou a guarda.
DECISÃO
Recebi 21 reclamações de leitores a respeito do trabalho da Folha na final do campeonato paulista de futebol. A maioria lamentava que o jornal tenha publicado um pôster do campeão, em que Evair, talvez o principal jogador do Palmeiras na partida decisiva, não aparecia. A foto fora feita na partida anterior.
Outros reclamavam de ter recebido exemplar sem o resultado da partida. A direção da Redação da Folha informa que montou esquema especial para que no domingo passado todos os jornais destinados ao interior do Estado de São Paulo, ao contrário do que acontece normalmente, fossem impressos após o término do jogo.
Alega, entretanto, que não pôde esperar o resultado do jogo para o reparte destinado aos outros Estados, pois isso determinaria que em alguns deles o jornal só poderia chegar aos leitores na noite de domingo, em razão de horários de voos e esquemas de distribuição.
Quanto ao pôster, a justificativa da Folha é a de que a edição de domingo é volumosa e numerosa, demandando um enorme esforço de impressão e distribuição. No intuito de ampliar a cobertura da final, o jornal ainda preparou um caderno especial, denominado "Superpaulistão". Esse esforço obrigou a que partes da edição tivessem que ser concluídas antes e o pôster foi uma delas.
Na minha opinião, o pôster de campeão é o troféu particular dos torcedores, mais ainda para quem espera há 17 anos a oportunidade de expô-lo. Se razões concorrenciais obrigaram a que a Folha circulasse com uma foto antiga no domingo, que se publicasse o pôster autêntico, da partida final, na edição de segunda-feira. O jornal ficou devendo uma foto do campeão que incluía Evair, o artilheiro palmeirense, autor do gol que deu o campeonato esperado há 16 anos e 9 meses.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade