Martin Wolf

Comentarista-chefe de economia no Financial Times, doutor em economia pela London School of Economics.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Martin Wolf
Descrição de chapéu Financial Times China PIB

Política é a maior ameaça ao crescimento econômico na China

Pequim precisa lidar com crescente hostilidade externa enquanto busca equilíbrio entre Estado e capitalismo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Financial Times

Três colunas minhas recentes questionaram se o rápido crescimento relativo do PIB (Produto Interno Bruto) e do PIB per capita da China estava chegando ao fim, como muitos acreditam (ou esperam).

A primeira delas argumentou que a China tem potencial para um crescimento rápido porque ainda é muito pobre —de acordo com o FMI, o PIB per capita da China era apenas o 76º do mundo em 2022.

A segunda discutiu seu maior problema econômico interno —poupança excessiva crônica absorvida em um boom imobiliário insustentável impulsionado pela dívida, que está chegando ao fim.

A terceira discutiu as restrições impostas por uma população em declínio. A conclusão foi que essas são dificuldades sérias, mas gerenciáveis.

O líder chinês Xi Jinping durante evento da Belt and Road Iniciative, conhecida como Nova Rota da Seda, em 17 de outubro - Suo Takemura via AFP

Isso nos deixa com a maior restrição de todas, que é a política. No exterior, a China precisa navegar em torno da crescente hostilidade dos Estados Unidos e seus aliados. Internamente, precisa gerenciar a transição para uma economia mais equilibrada e sustentar a relação entre o Estado comunista e a economia capitalista.

Esses desafios são os mais difíceis que o gigante em ascensão enfrenta. Se não conseguir gerenciá-los, poderá, na pior das hipóteses, entrar em conflito com as democracias de alta renda e, na melhor das hipóteses, ser outro país preso na "armadilha da renda média".

É difícil avaliar o quão significativo será o impacto deterioração do ambiente externo no crescimento econômico. Isso ocorre em parte porque não sabemos o quão pior pode ficar. Também ocorre porque parte do que pode acontecer não é resultado de escolhas políticas específicas dos EUA ou de outros governos, mas sim de uma ansiedade mais geral das empresas estrangeiras em relação aos diversos riscos que a exposição à China pode acarretar.

As ações de política comercial introduzidas por Donald Trump e continuadas por Joe Biden não tiveram efeito significativo no comércio geral da China.

Em 2022, o país registrou superávits comerciais substanciais com todas as grandes regiões econômicas, incluindo a América do Norte.

A razão entre balança comercial e PIB diminuiu, mas ainda é alta para uma economia desse tamanho.

Sua participação nas exportações mundiais parou de aumentar, mas ainda é muito maior do que a da UE (excluindo o comércio interno) ou dos EUA. A falta de receitas de exportação não impedirá a China de comprar o que precisa.

A maioria dos fornecedores também ficará feliz em vender para o país. A exceção óbvia se deve às restrições dos EUA às exportações de semicondutores e à capacidade de produzi-los.

De acordo com Tilly Zhang, da Gavekal, "a indústria de semicondutores da China está se confrontando com uma realidade desagradável: neste momento, sanções coordenadas pelos EUA e seus aliados efetivamente bloquearam seu caminho para a produção de chips avançados".

Mas, de forma mais ampla, sugere Thomas Gatley, também da Gavekal, o "principal impacto da guerra comercial e tecnológica e suas tarifas e controles associados não foi reduzir a dependência dos EUA de bens chineses, mas tornar as cadeias de suprimentos mais complexas e opacas".

A grande questão, então, é se as restrições tecnológicas se tornarão uma restrição ao desempenho da economia. Eu não sei, mas sou cético. Os chineses são muito inovadores e empreendedores. A grande questão é se essas qualidades poderão florescer.

É possível que o "comunismo capitalista" sobreviva politicamente e prospere economicamente, ou suas "contradições", como os marxistas poderiam chamar, irão despedaçá-lo? Ou essas contradições já estão despedaçando esse Estado neste momento, sob o governo de Xi Jinping?

Deng Xiaoping era um gênio pragmático (e implacável). Ele permitiu que a economia chinesa se tornasse aberta, dinâmica e surpreendentemente livre. Sem desejar controle diário, ele estava feliz em delegar poder a pessoas competentes.

Mas, como não poderia haver restrições à discrição do partido-Estado, fazer as coisas dependia de acordos entre funcionários e empresários. Isso levou a muita corrupção. Xi nos disse isso.

Indicadores de governança do Banco Mundial mostram que ele estava certo. A China é realmente corrupta pelos padrões das democracias de alta renda.

Xi também não é um delegador. Em vez disso, ele está consolidando seu poder no partido e o poder do partido no país. Enquanto isso (e apropriadamente), objetivos e restrições se tornaram mais complexos. É impossível focar apenas no crescimento.

Segurança nacional, meio ambiente e desigualdade também importam, para citar algumas questões. Tudo isso torna a formulação de políticas muito mais difícil. Não menos importante, também há choques repentinos, como a Covid, período em que uma política bem-sucedida de supressão durou tempo demais.

Esta última, sugere Adam Posen do Instituto Peterson de Economia Internacional, encerrou o acordo de "sem política, sem problema", no qual a economia funcionava livremente desde que as pessoas se mantivessem afastadas da política.

Hoje, no entanto, a política se tornou menos previsível e mais intrusiva. No entanto, isso não é apenas produto dos caprichos de Xi. A questão é muito mais profunda. No final, o casamento do partido com uma economia de mercado arrisca minar tanto sua legitimidade quanto seu controle.

O desejo de Xi de restaurar ambos inevitavelmente mina a grande conquista de Deng, que é o dinamismo econômico da China. Tudo isso se tornou ainda mais problemático agora que o ambiente externo é mais desafiador e a economia precisa de reequilíbrio e reforma.

As maiores questões sobre o futuro econômico da China, então, são políticas. Como evoluirá sua relação com os EUA e sua própria governança?

Uma grande questão doméstica é se há vontade e capacidade para deslocar a economia de uma dependência de investimentos excessivos e ineficientes para um consumo maior e investimentos melhores.

A questão ainda maior é se a China passou do ponto em que a relação entre o partido comunista e o capitalismo funciona. Se não, quem acaba no topo? Se, como parece provável, o partido for centralizado sob a direção de um homem, a economia de mercado pode prosperar?

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.