Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Charlatões da nova política só serão derrotados por nova geração de políticos

As semelhanças entre Tabata Amaral e Alexandria Ocasio-Cortez vão além da corajosa trajetória

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A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP), em jantar na Casa Fasano - Zanone Fraissat - 4.dez.2018/Folhapress

As semelhanças entre a deputada federal pelo PDT Tabata Amaral e a congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez, popularmente conhecida como AOC, vão muito além da corajosa trajetória pessoal e da qualidade das intervenções. Elas irromperam na cena política num momento de perplexidade diante do avanço da direita populista.

Confrontado à sequência política da semana passada, uma das mais degradantes da Nova República, Ciro Gomes abandonou o colaboracionismo raso ensaiado no começo do mandato e regressou ao habitual figurino de coronel rabugento e mal-educado, chamando o presidente de “imbecil”. 

Previsivelmente, Gleisi Hoffmann demonstrou pelos seus comentários sobre a tensão entre Bolsonaro e Mourão que, tal como um personagem de Edvard Munch, está eternamente perdida numa espiral infernal, a poeirenta narrativa do golpe.

Num breve mas contundente questionamento do cidadão que alegadamente comanda o Ministério da Educação, Tabata Amaral mostrou que o campo progressista tem muito mais a ganhar afrontando o governo com dados e ideias do que com bravatas e digressões.

No Congresso americano, Alexandria Ocasio-Cortez vem alertando há meses para a necessidade de oferecer uma alternativa programática, que ela propõe na forma de um “New Deal” ambiental, em vez de apostar tudo na ofensiva moral e jurídica contra Donald Trump. O fiasco recente da investigação sobre a intervenção russa na campanha eleitoral deu-lhe toda razão.

Tabata e AOC se situam em extremos opostos da esquerda e por isso divergem no estilo e nas ideias. Mas elas desempenham um papel semelhante nos seus respectivos campos políticos: revelar que as lideranças da geração atropelada pela direita populista precisam repensar profundamente a sua atuação.

Nesse sentido, as duas são agentes genuinamente radicais, independentemente das suas convicções ideológicas. Isso explica porque os centristas americanos e os mais primitivos esquerdistas brasileiros tratam a ascensão das duas jovens politicas com a mesma arrogância e desdenho.

É o reflexo corporativista de uma casta desesperada em situação acelerada de extinção.

Tabata e AOC (ainda) não estão aqui para tomar o poder. Elas vieram acelerar a tão necessária renovação politica. É impossível dissociar o surgimento da nativa do Bronx com a emergência de uma nova geração de presidenciáveis no campo democrata. Antes mesmo das primarias começarem, esses novos líderes já aniquilaram a possibilidade de uma candidatura da velha ordem, como Joseph Biden, vice-presidente de Barack Obama, e até Hillary Clinton. 

Temos de torcer para que Tabata e muitos outros da sua geração —Sâmia Bomfim, por exemplo, salvou a honra da República ao forçar a aterrissagem de Ernesto Araújo na Câmara dos Deputados e merece ser acolhida com o mesmo entusiasmo— façam tremer o chão do campo progressista brasileiro.

Porque já não restam dúvidas de que os charlatões da nova política só serão derrotados por uma nova geração de políticos.

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