Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Mais do que nunca, o espelho do PT é o peronismo

Se governo de Fernández der certo, partido vai repetir experiência de 2018, desta vez com Lula no cockpit

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Mais preocupado em perseguir Tabata Amaral do que em fazer oposição a Bolsonaro, Ciro Gomes perdeu a oportunidade de ocupar o vazio, e Lula, com uma facilidade contundente, voltou a assumir o lugar de líder da oposição.

Seu regresso reorganiza o tabuleiro político. E, num Brasil onde a política doméstica nunca foi tão internacionalizada, os espelhos de fora serão decisivos.

Esqueçam os modelos da geringonça portuguesa ou da nova esquerda dos Estados Unidos. Mais do que nunca, o espelho do PT é o peronismo.

A vitória de Alberto Fernández chancelada por Cristina Kirchner dá credibilidade à tese de que as contradições inerentes do partido potencializaram a derrota de Fernando Haddad.

Enquanto a presença de Kirchner manteve a ala kirchnerista do peronismo coesa e disciplinada, a ausência de Lula durante a campanha exacerbou as tentações antropofágicas dos petistas. Se o governo de Fernández der certo, o PT vai repetir a experiência de 2018, só que desta vez com Lula no cockpit.

A ex-presidente Dilma e o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, na abertura da reunião do Grupo de Puebla, no sábado (9)
A ex-presidente Dilma e o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, na abertura da reunião do Grupo de Puebla, no sábado (9) - Martín Zabala/Xinhua

Todos sabemos que Jair Bolsonaro, desde o primeiro dia de governo, se colocou na sombra de Donald Trump.

Uma aposta cega que rendeu muitos benefícios durante a campanha e nos primeiros meses de governo. A associação dos dois dava a impressão de que Bolsonaro não era uma anomalia do sistema democrático, mas um fenômeno do seu tempo, que permitia ao Brasil acompanhar o bonde da história.

Resta saber como vão ser escritas as próximas páginas. Se Trump sair do poder por impeachment ou por derrota eleitoral, o governo Bolsonaro perde a sua razão de existir.

Por outro lado, se Trump vingar, ele se beneficiaria de um novo impulso num momento decisivo. Em suma, para Bolsonaro, importa tanto o voto do eleitor de Nevada em 2020 como o do eleitor do Ceará em 2022.

Resta o espelho de Emmanuel Macron. Embora tenham procurado se distanciar do presidente francês por conta das tensões Brasil-França e da própria imagem de Macron, significativamente danificada pelos "coletes amarelos", as lideranças políticas no Brasil e alhures continuam vendo a revolução centrista francesa como uma aspiração.

Só nos últimos dias, assistimos ao funeral de uma das experiências centristas mais promissoras —a do espanhol Cidadãos, dizimado na eleição deste domingo (10)— e ao possível nascimento de uma nova —a pré-candidatura de Michael Bloomberg nas prévias do Partido Democrata. 

Mas é a trajetória de Macron, que recentemente se posicionou como guardião do templo liberal, que vai formar a narrativa.

Se ele derrotar Marine Le Pen uma segunda vez e confirmar a perenidade de seu projeto em maio de 2022, o tropismo macronista regressará em força e Luciano Huck será apresentado como o mais apto a derrotar a extrema direita.

Devem ser adicionados a esse grupo os onívoros Ciro Gomes e João Doria, capazes de se declararem próximos de qualquer liderança ou ideologia para chegar ao topo —comicamente, ambos se apresentaram como o “Macron brasileiro” em 2018.

De uma forma ou de outra, a confirmação do regresso da esquerda na América Latina, a consolidação do centrismo como bastião das democracias liberais e a afirmação da extrema direita no Atlântico Norte terão importância decisiva para dinâmica eleitoral de 2022.

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