Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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O ano zero de Biden

Governo termina 2021 com a sensação de que já chegou ao limite

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É impossível negar que Biden já tenha deixado sua marca na história. Os seus dois pacotes de estímulos, que devem ser acompanhados em breve por um terceiro, constam como as mais robustas intervenções na economia americana em décadas. Seus efeitos serão sentidos por gerações e irão reconciliar a sociedade com o Estado.

A sua política econômica tem inspirado programas de governo ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Nada mal para o líder do Ocidente, recentemente classificado como "decadente" pela ex-presidente Dilma Rousseff.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, presta solidariedade às vítimas dos tornados no Kentucky
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, presta solidariedade às vítimas dos tornados no Kentucky - Kevin Lamarque/Reuters

No papel, Biden entregou quase tudo o que prometeu em 2020, quando anunciou que "os Estados Unidos estão de volta": uma máquina administrativa moderna e competente, um Estado modernizador, e uma América onipresente na arena global. Mas nada disso foi suficiente.

A campanha de vacinação esbarrou na profunda fratura social. Os movimentos antivacina disputaram, e em alguns estados venceram, a "batalha pela alma da América", um dos principais temas da campanha do presidente.

Os efeitos imediatos de sua política econômica estão sendo limitados por contingências, como o surto inflacionário, impasses políticos dentro e fora do seu partido, e mudanças inesperadas na sociedade.

A ainda pouco explicada demissão de mais de 4 milhões de americanos desde agosto, ou seja, 3% da população ocupada, está provavelmente ligada a novos paradigmas nas relações de trabalho pós-pandemia. Um fenômeno difícil de assimilar para um presidente que sempre celebrou a América em que empresas e empregados viviam relações filiais e geracionais.

Mas é na política externa, sua suposta área de expertise, que Biden mostrou toda a sua vulnerabilidade. A retirada do Afeganistão, uma decisão justa manchada por uma catástrofe humanitária, deu farta munição a rivais geopolíticos. O seu golpe contra a França nos contratos dos submarinos australianos reforçou a convicção da União Europeia de que a aliança do Atlântico Norte é algo do passado.

Na COP de Glasgow, os Estados Unidos expuseram o abismo entre as aspirações dos tecnocratas e a realidade social na política climática. Quanto à Cúpula da Democracia da semana passada, Biden flertou com o ridículo.

A partir de critérios definidos com a clareza de um porteiro de boate, o presidente americano convocou chefes de Estado que ele considera serem parte do campo democrático para discursarem sobre platitudes. Se a ideia de Biden era mostrar que a comunidade internacional apoia a política de contenção dos Estados Unidos contra a China, a Cúpula da Democracia foi uma demonstração de fraqueza em vez de força.

Esse foi apenas o primeiro ano. No próximo, Biden enfrentará nas eleições de meio mandato a oposição mais antidemocrática desde que os escravocratas sulistas declararam a secessão contra Abraham Lincoln. Vladimir Putin se mostra decidido a fazer do conflito na Ucrânia um momento de verdade para as ambições globais americanas.

Biden é uma raposa velha da política que conhece como ninguém o ritmo da Presidência. Sua equipe é vista como uma combinação das mentes brilhantes da era Obama e da melhor geração da esquerda americana desde os anos 1960.

Seu primeiro ano, no entanto, termina com a sensação angustiante de que o governo Biden já chegou ao limite das suas capacidades.

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