Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

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Renovação política precisa de uma sociedade alerta​

Eleitores precisam acompanhar de perto a trajetória de políticos novatos

Urna eletrônica; neste ano, é plausível supor que o eleitorado empurrará políticos tradicionais para a aposentadoria compulsória
Urna eletrônica; neste ano, é plausível supor que o eleitorado empurrará políticos tradicionais para a aposentadoria compulsória - Alan Marques - 3.out.2014/Folhapress

A última grande renovação da classe política brasileira ocorreu há 30 anos, quando a Nova República trouxe a geração de Lula e Fernando Henrique Cardoso ao poder. De lá para cá, aquela geração introduziu formas mais democráticas de lidar com a vida pública, embicando o país para longe do autoritarismo. 

Hoje, porém, a sensação generalizada é de profunda frustração com a promessa original: a esperança de outrora virou cinismo, à medida que as novas lideranças fizeram carreira usando as mesmas práticas das elites que dominavam a política antes de 1988. 

O resultado disso é que cá estamos, três décadas depois, às voltas com clientelismo e patronagem, compra de votos e captura do Estado, corrupção endêmica e mandonismo, dinastias e caciquismo. A Lava Jato, tentativa mais ambiciosa de pôr o atraso contra a parede, levou a uma “reação oligárquica”, na expressão de Luís Roberto Barroso.

Este ano teremos nova oportunidade de renovação. Embora seja impossível prever quanta mudança efetiva haverá nas eleições, é plausível supor que o eleitorado empurrará um bom número de políticos tradicionais para a aposentadoria compulsória, colocando no lugar gente que nunca se candidatou.

Se isso ocorrer, teremos uma turma considerável de novatos na política. Esse grupo será obrigado a aprender as regras formais e informais que disciplinam o jogo político no país e, diante de tal conhecimento, a fazer suas escolhas.

Uns buscarão adequar-se às regras existentes, no entendimento de que, assim, terão melhores condições de sobreviver na política. Outros farão um cálculo diferente: diante da demanda social por mudança, apostarão em inovação efetiva como melhor maneira de consolidar seu nome junto ao eleitorado.

Para evitar uma nova frustração, a sociedade brasileira precisa acompanhar de perto a trajetória desse pessoal. 

Na prática, isso significa que temos de ficar atentos, nos próximos quatro anos, à relação dos novatos com as cúpulas partidárias, com os conglomerados econômicos, com os caciques que dominam os currais eleitorais e com os meios pelos quais o Executivo forma sua maioria parlamentar. Significa também botar os olhos na relação de cada novato com seu eleitor, avaliando se e como ele presta contas a quem lhe deu o voto.

Nesse processo, o cidadão aprenderá duas coisas. Ele terá condições de distinguir entre aqueles políticos que trabalham para mudar as coisas de fato e aqueles que, aproveitando a demanda do eleitorado, usam o mote do “novo” para manter tudo como está. E, de quebra, o cidadão adquirirá uma compreensão ainda mais aprofundada daqueles mecanismos informais que, embora perversos, ainda definem os rumos da política.

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