Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

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Matias Spektor
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Sem reformas, risco político dispara

Agentes com experiência no mercado começam a precificar um futuro sem mudanças estruturais

Estamos assistindo a um aumento sustentado do risco político e o motivo por trás disso tem relação secundária com o PIB murcho, o aumento da taxa de juros americana e a indefinição da corrida presidencial de outubro. 

O principal motivo é que já há agentes com experiência vasta no mercado que começaram a precificar um futuro sem reformas estruturais. E esse problema diz respeito à natureza do sistema político. 

Quem tem memória sabe que toda eleição presidencial brasileira provoca um aumento considerável do risco político. Isso ocorre porque o presidente eleito pode até gozar do apoio da vasta maioria dos eleitores, mas está impossibilitado de implementar de uma só tacada as reformas prometidas durante a campanha.

Antes de atender às demandas do eleitor, ele precisa atravessar uma penosa costura parlamentar em que as preferências do eleitorado valem pouco e na qual quem manda são grupos de interesse desprovidos de preocupação com a saúde fiscal do Estado ou da economia nacional. 

Assim, no Brasil, mesmo quando um presidente se elege prometendo reformas, sua capacidade de entregar a promessa é limitada. Como os agentes econômicos se acautelam, o risco aumenta.  

A eleição deste ano reforçará essa dinâmica perversa. Nenhum candidato no páreo consegue prometer a formação de uma maioria parlamentar a toque de caixa. 

Por um lado, os partidos tradicionais com mais experiência na formação de maiorias —MDB, PSDB e PT— ainda não possuem candidatos competitivos. Por outro, os nomes prediletos do eleitorado —sem Lula, Bolsonaro, Ciro e Marina— vêm de agremiações pequenas e seriam obrigados a costurar suas respectivas maiorias partindo de uma posição desvantajosa. 

O aumento do risco durante os últimos dias é resultado da nova onda pessimista a respeito daquilo que o sistema político brasileiro consegue fazer em momentos de crise. O que tende a preocupar cada vez mais os agentes econômicos é a possibilidade de o próximo presidente assumir as rédeas do governo sem chão. 

Se isso acontecer, nem sequer o mais benigno dos ambientes externos daria conta de prevenir um colapso diante do abismo fiscal. Nem sequer o mais graúdo dos colchões de reservas conseguiria mitigar o impacto da queda. 

Nesse cenário, o resultado é um novo governo às voltas com a necessidade de produzir inflação para custear as suas próprias contas, endividando-se em casa e no exterior. Trata-se de um presidente que dá a largada sem credibilidade junto à opinião pública.  

Acontece que a história recente também mostra o que acontece no Brasil quando presidentes eleitos pelo voto popular não conseguem entregar uma economia estável: eles caem.

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