Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

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Matias Spektor
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Nenhum candidato questionará o apoio às 'campeãs nacionais'

Empurrão a grandes conglomerados empresariais deve ser discutido às claras

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Quando a corrida presidencial esquentar, os candidatos terão divergências brutais sobre como lidar com China, Israel e a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). No entanto, haverá um assunto em que todos estarão de acordo: a necessidade de manter o apoio à internacionalização de grandes conglomerados empresariais.

A política externa de fomento às hoje chamadas “campeãs nacionais” nasceu no governo do general Médici, ganhou musculatura com o general Figueiredo e, durante a Nova República, foi turbinada pelo condomínio PT-PSDB. 

No Brasil democrático, ela virou a fatia da agenda externa que recebeu mais recursos financeiros e diplomáticos.

Ocorre que, há quatro anos, essa política colapsou e o subsídio estatal à internacionalização das campeãs provou ser um fracasso retumbante. 

É uma política que transferiu renda de baixo para cima, sem aumentar a produtividade ou gerar arrasto tecnológico significativo. Originou calotes gigantescos e levou à desgraça os governos de países vizinhos que embarcaram em nosso modelo de superfaturamento de grandes obras em troca de financiamento de campanha.

Os custos não param por aí. Como a política dependia de ilegalidades, o sentimento antibrasileiro na vizinhança sul-americana cresceu. Líderes estrangeiros hoje pensam duas vezes antes de chegar perto. O custo de reputação também contaminou a imagem do Brasil na América do Norte, na América Central e na Europa. 

A diplomacia das campeãs foi tão ruim que danificou até os interesses das empresas que pretendia apoiar —Odebrecht e Queiroz Galvão, Petrobras e Eletrobras, Embraer e JBS, entre outras. Em vez de fortalecer o Brasil, o enfraqueceu. 

O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o empresário Emílio Odebrecht, em Paulínia (SP), em 2008
O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o empresário Emílio Odebrecht, em Paulínia (SP), em 2008 - Eduardo Knapp - 25.abr.08/Folhapress

E, mesmo assim, nenhum candidato questionará a política em público. A classe política nacional é caudatária dela e não comprará a briga.  

Embora se encontre combalido pela Lava Jato, o lobby das campeãs continua tendo força ímpar. De quebra, é bom de marketing: muita gente acredita que a existência de multinacionais controladas por cidadãos brasileiros constitui, por si só, um ativo estratégico para a sociedade como um todo. Trata-se de uma crença sem base empírica, mas com grande influência.  

Por esses motivos, assim que o próximo governo assumir, o lobby voltará a pedir ajuda e proteção. Desta vez, dirá que precisa de um empurrão para sacudir a poeira da Lava Jato. E, nisso, terá apoio da burocracia federal, incluído aí uma parte do BNDES. 

A única forma de evitar que isso produza uma nova lambança custosa é discutir o assunto às claras. Há formas inteligentes de alavancar o setor privado no exterior. A gente só precisa quebrar a cabeça para achar a melhor fórmula.

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