Nas próximas semanas, dedicarei a coluna à plataforma de política externa dos candidatos à Presidência. Antes de esmiuçar cada programa, é necessário estabelecer uma métrica para compará-los.
O diagnóstico que embasa a análise é simples: vivemos um momento péssimo nas relações internacionais do Brasil.
As contas públicas —recurso necessário para projetar influência no exterior— estão desarrumadas.
A produtividade da força de trabalho —que determina quem consegue galgar posições na hierarquia global— arrasta-se no chão.
Bons instrumentos diplomáticos —como o Mercosul e os empréstimos internacionais do BNDES— colapsaram ou se fragilizaram. Para piorar a situação, a América do Sul deixou de ser estável.
A fronteira com a Venezuela vira manchete, e nossa situação de segurança externa, pela primeira vez em décadas, deixou de ser benigna: o Brasil virou rota do narcotráfico sul-americano e guarida do crime organizado —e há uma epidemia de violência em todo o território.
Dado esse diagnóstico, há três princípios básicos de política externa para o governo que virá.
Primeiro, a diplomacia precisará reagir ao narcotráfico e ao crime organizado, duas forças transnacionais. Na prática, isso significa atuar em temas como proliferação de pequenas armas, cooperação internacional em inteligência e policiamento, combate ao contrabando e à pirataria na extensa costa brasileira e o fechamento dos canais ainda existentes para a lavagem de divisas.
Segundo, a política externa tem o potencial de ajudar muito para a prosperidade do país, atuando para promover mais emprego e renda. Isso demandaria rever parte da agenda de comércio exterior e nossa atitude em relação às regras da Organização Mundial do Comércio.
Terceiro, caberá ao próximo governo ajudar a recompor a reputação internacional do país perdida na esteira da Lava Jato. Isso demandaria uma diplomacia pública inédita nos anais da política externa nacional.
É claro que a busca consciente desses objetivos não é garantia de resultados positivos. Iniciativas inteligentes podem morrer na praia porque o próximo governo terá de acomodar interesses divergentes e grupos de pressão bem organizados. Além disso, cada medida adotada produzirá reações, difíceis de prever e controlar.
Assim, as promessas de campanha feitas nos programas de governo não permitem prever quais medidas o próximo mandatário tomará de fato. Mas indicam muita coisa.
Os candidatos apresentam uma estratégia coerente com a realidade global para tornar o Brasil mais seguro e próspero? Aprenderam algo do passado?
A partir da semana que vem, será essa a régua que utilizarei.
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