Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Globo enxerga na sua brasilidade uma arma para enfrentar a Netflix

Emissora reestruturou serviço de streaming e enfatiza que ele "é feito por brasileiros para brasileiros"

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"Tidelands", série que a Netflix lança na próxima sexta-feira (14), reitera a estratégia global da empresa americana.

Trata-se da primeira produção da gigante do streaming realizada na Austrália. O elenco é formado por atores australianos, mas também por uma espanhola (Elsa Pataky) e um brasileiro (Marco Pigossi) em papéis de destaque.

A série é oficialmente apresentada desta forma: "A ex-presidiária Cal McTee (Charlotte Best) volta para Orphelin Bay, onde descobre uma conspiração de gerações envolvendo assassinato, drogas e sereias". Acrescento apenas que Adrielle (Pataky) é uma espécie de rainha da comunidade de sereias e Dylan (Pigossi), o seu braço direito.

A Netflix contratou Pigossi imediatamente após o ator anunciar, no final de 2017, a intenção de não renovar contrato com a Globo para se dedicar a cursos no exterior.

Depois de mais de uma década na emissora, e uma dezena de trabalhos em novelas, quase sempre no papel de galã, Pigossi adiou o projeto de estudar para atuar em "Tidelands" e, em 2019, em "Cidades Invisíveis", outra série da Netflix, dirigida por Carlos Saldanha ("A Era do Gelo", "Rio", "Touro Ferdinando").

Em um encontro em Londres, na última semana, um dos principais executivos da empresa americana, Erik Barmack, afirmou que "séries com elencos multinacionais se tornarão a norma". Ele anunciou que a empresa vai produzir em 2019 uma primeira série na África.

"Chegará um momento em que metade das dez séries mais vistas em um determinado ano virão de fora dos Estados Unidos", disse Barmack, segundo a revista Variety. "E não acho que isso está muito longe. Isso vai acontecer em questão de anos, não de décadas."

Curiosamente, essa estratégia global da Netflix está sendo vista pela Globo como uma arma a favor da empresa brasileira. Principal produtora de conteúdo no país, a emissora reestruturou o seu serviço de streaming em 2018 e está enfatizando que ele "é feito por brasileiros para brasileiros".

Num encontro com jornalistas em São Paulo, na semana passada, o principal executivo da Globoplay, João Mesquita, observou: "Nossas produções são tanto produzidas por nós ou compradas pensando no [público] brasileiro. Não precisamos ir buscar 500 mil conteúdos asiáticos só porque dá volume".

Em mais de uma ocasião, Mesquita, que é português, repetiu o conceito de que a Globoplay é uma plataforma brasileira, feita 100% para brasileiros e vai sempre manter a sua "brasilidade".

O executivo anunciou planos ambiciosos (o licenciamento de cem séries estrangeiras até o final de 2019) e prometeu: "Posso garantir o seguinte: no final do ano que vem, nós teremos tantos assets [produções] quanto tem a maior das plataformas que opera no mercado brasileiro".

Mesquita entende que há espaço no mercado de conteúdo por demanda via internet para duas ou três grandes empresas se estabelecerem como "pilares".

"E a Globoplay vai ser um deles", garante. "É a única nacional. Produzimos conteúdo que as pessoas querem ver", disse, citando Netflix, Amazon e Disney.

Muito da segurança do executivo vem do que ele reconhece ser um "canhão" —a Globo. Questionado, por exemplo, sobre as dificuldades que a Netflix enfrenta para comunicar ao público todos os seus muitos lançamentos, Mesquita disse: "A Netflix não dispõe de uma TV Globo".

E levantou a hipótese de ter um programa semanal na emissora para divulgar as atrações da Globoplay.

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