Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Jorge Furtado prevê uma nova TV e um novo cinema na pandemia

Ainda em fase de gravação para a Globo, série do cineasta conta histórias de conflito afetivo protagonizadas por uma dupla

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Superado o impacto inicial, que levou à suspensão de filmagens e gravações em todo o mundo, começaram a pipocar algumas engenhosas experiências de criação audiovisual na quarentena.

Essas produções obedecem ao princípio básico do distanciamento social. Normalmente, envolvem apenas pessoas que já estão juntas, auxiliadas por outras que se comunicam em salas de conferência virtual.

Gosto muito das soluções simples encontradas pelo italiano Paolo Sorrentino e pelo chileno Pablo Larraín em “Feito em Casa”, da Netflix, uma coleção de pequenos curtas realizados, como diz o título, de forma caseira.

O primeiro filmou dois bonecos que representam o papa Francisco e a rainha Elizabeth, numa reflexão bem humorada sobre a solidão e o poder simbólico de ambos. Sem poder sair do palácio por causa da quarentena, a soberana deixa a frieza habitual de lado e se aproxima do pontífice —eles até dançam juntos.

O segundo mostra as tentativas de um idoso, confinado num asilo, de sensibilizar uma ex-namorada por meio de videoconferência. Pelas respostas que ela dá, entendemos que ele é um canalha. Mal ela desliga, ele pede à enfermeira que chame outra ex-namorada.

Já elogiei aqui boas experiências caseiras em matéria de humor e crônica política feitas no Brasil por Marcelo Adnet (“Sinta-se em Casa”, Globoplay), Gregorio Duvivier (“Greg News”, HBO) e Porta dos Fundos (You Tube).

Uma mais recente é “Sala de Roteiro”, criada por Antonio Prata, no YouTube, em que cinco roteiristas discutem, numa conversa virtual, o desenvolvimento de uma série sobre o Brasil de Bolsonaro. A inspiração para a série foi uma crônica publicada por Prata na Folha em junho.

As ideias dos roteiristas (vividos por Andréa Beltrão, Mariana Lima, Enrique Diaz, Marcos Palmeira e William Costa) são sempre mais convencionais e menos absurdas do que os fatos.

Ainda em fase de gravação para a Globo, a série “Amores Possíveis” (título provisório) promete algo um pouco mais complexo. Cada um dos quatro episódios conta uma história de conflito afetivo protagonizada por uma dupla. Os atores são casais (ou mãe e filha) na vida real que estão em quarentena juntos.

Tais Araújo e Lazaro Ramos; Fabiula Nascimento e Emilio Dantas; Luisa Arraes e Caio Blat operam os equipamentos de gravação e obedecem a diretrizes da diretora Patrícia Pedrosa por meio de videoconferência. O cineasta Andrucha Waddington dirige a própria mulher, Fernanda Torres, e a sogra, Fernanda Montenegro.

Criador do projeto, o cineasta e roteirista Jorge Furtado (“Doce de Mãe”, “Mister Brau”, “Sob Pressão” e “Todas as Mulheres do Mundo”) define a série como “um rito de passagem: uma dramaturgia
possível neste momento”.

Furtado não tem dúvida de que a pandemia terá um efeito mais profundo e permanente na produção audiovisual. “A peste muda tudo. Muda o nosso jeito de ver o mundo para sempre. É um acontecimento único na vida de todos nós ao mesmo tempo. Isso é muito significativo dramaticamente. Existe uma dramaturgia antes e outra depois da pandemia.”

O impacto também será sobre a forma de fazer. “Tem uma frase do pessoal da Good Machine, uma produtora de cinema, que diz que o orçamento é a estética. É a ideia de que as condições de produção definem a estética também”, diz.

“O cinema novo foi possível naquele momento, com aquele equipamento, assim como o neorrealismo italiano no seu momento histórico. As condições de produção vão definir a estética. E acho que vai ter um novo tipo de cinema, um novo tipo de televisão, um novo tipo de tudo, que vai surgir aos poucos, a partir de agora”, prevê.

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