Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Globo faz aposta conservadora em remakes de novelas

Reação da emissora à crise inclui troca de comando nessa área

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Num período de transição de comando, na segunda metade da década de 1990, a Globo abraçou o projeto de remakes de três novelas das 20h que fizeram grande sucesso nos anos 1970.

A primeira foi "Irmãos Coragem", de Janete Clair, adaptada por Dias Gomes em 1995. Em 1998 foi a vez de "Pecado Capital", também de Janete, reescrita por sua pupila Gloria Perez. Ambas tiveram audiência e repercussão abaixo do esperado. A terceira seria "Dancin' Days", de Gilberto Braga, mas o autor se recusou a cumprir a tarefa.

O projeto fracassou por erros de estratégia e programação. O principal deles foi a decisão de escalar os remakes para a faixa das 18h. Ou seja, novelas originalmente com temática adulta e pesada perderam a identidade ao serem amenizadas para exibição a um público habituado a tramas mais leves e adocicadas.

Cena da novela "Dancin' Days", escrita por Gilberto Braga em 1978
Cena da novela "Dancin' Days", escrita por Gilberto Braga em 1978 - Divulgação


Gilberto Braga deixou claro para a Globo que até aceitaria refazer "Dancin' Days", mas no horário das 20h, porque entendia ser a oportunidade de escrever uma novela mais forte que a de 1978, produzida sob os olhos da Censura. Às 18h a novela não teria força, como ocorreu com os dois remakes de Janete Clair.

Quase 30 anos depois, vivendo um novo período de mudanças internas, a Globo voltou a investir em remakes de novelas das 20h (agora das 21h). Em 2022, a emissora apostou, e saiu-se muito bem, em uma nova versão de "Pantanal", escrita por Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, autor da trama original, exibida em 1990, na Manchete.

Para 2024, a Globo planeja um remake de "Renascer", de 1993, repetindo a dobradinha entre Luperi e Ruy Barbosa, também para o horário nobre. E fala-se em uma nova versão de "Elas por Elas", de Cassiano Gabus Mendes, exibida em 1982 na faixa das 19h, agora para o horário das 18h.

Reportagem de Cristina Padiglione publicada no início do mês na Ilustrada discutiu longamente o assunto com o executivo Amauri Soares. Ele deu inúmeras explicações para este tipo de investimento, mas em momento algum reconheceu que é uma aposta conservadora e, de alguma forma, reflexo de uma crise.

Tanto "Um Lugar ao Sol", que antecedeu "Pantanal", quanto "Travessia", que veio depois, decepcionaram muito em matéria de audiência, mas Soares diz que atribuir a decisão de investir em remakes a esses dois fracassos é minimizar o trabalho de sua equipe.

"Remake é um recurso a mais. Remake sempre fez parte do nosso portfólio e de qualquer estúdio. As histórias que se mantêm relevantes são reaproveitadas", minimizou.

Entre uma platitude e outra, Soares valorizou o trabalho de "curadoria" de uma equipe da Globo que analisa dados estatísticos, estuda hábitos de consumo e se arrisca por análises sociológicas, como "a conexão do brasileiro com o campo". "Sabíamos que ‘Pantanal’ seria um sucesso. A gente tem histórico de sucesso com novelas não urbanas", disse.


Quando falou com Padiglione, Soares era o diretor da TV Globo e afiliadas. Nesta semana ele tornou-se também diretor dos Estúdios Globo, em substituição a Ricardo Waddington, um profissional com quatro décadas de experiência em teledramaturgia e entretenimento. Virou, assim, o mais poderoso executivo da emissora.

Jornalista de origem, com passagem pelo "Aqui Agora", no SBT, Soares atuou nos principais jornalísticos da Globo antes de ganhar um cargo como diretor-executivo da emissora em Nova York. Completou a transição ao se tornar, na década passada, diretor de programação.

A sua ascensão ocorre num momento especialmente complexo, no qual a Globo se apresenta como uma produtora de conteúdo que se esforça para preservar a relevância na TV aberta enquanto luta para ocupar espaço no streaming. A sua tarefa é enorme.

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