Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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'Succession' está muito mais para 'Sopranos' que para um 'Rei Lear'

Após reviravolta em episódio da última temporada, série perde o que tinha de melhor

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"Oz", lançada em 1997, foi a primeira série dramática de peso produzida pela HBO. Exibida ao longo de seis temporadas, com episódios de uma hora de duração, se passava dentro de uma prisão de segurança máxima.


Durante as discussões sobre o projeto, o então principal executivo da HBO, Chris Albrecht, perguntou ao criador da história: "O que nunca foi feito no primeiro episódio de uma série de uma grande rede de TV?". Tom Fontana respondeu: "Matar o principal personagem". "Faça isso", propôs Albrecht. Fontana concordou e matou um dos principais protagonistas do episódio de estreia.

Vinte e um anos depois, "Succession" se arriscou por um caminho quase tão ousado. Ao final do primeiro episódio da série, lançada em junho de 2018, o magnata Logan Roy, dono de um império de mídia, sofre um derrame após comemorar o seu aniversário de 80 anos.


Jesse Armstrong, o criador da série, não teve coragem de matar o protagonista na estreia, mas utiliza o problema de saúde como pretexto para os espectadores conhecerem melhor os seus quatro filhos, que disputam, usando diferentes armas, a sucessão no comando dos negócios.

Ao chegar à quarta e última temporada, em março de 2023, o tema principal continua sendo este: a sucessão de Logan. A ousadia é que Armstrong não quis esperar até o último episódio para matá-lo. E quem não quiser spoilers, pode parar de ler aqui.

O empresário morre do coração dentro de um avião particular (não poderia haver lugar melhor) no terceiro episódio, exibido no último domingo.

Com todo respeito a quem busca evitar spoilers, quando uma série se torna um evento global, de fato, como ocorreu com "Succession", a morte do protagonista é o tipo de acontecimento impossível de ser mantido em segredo.

Sem Logan, os sete episódios que restam se tornam ainda mais atraentes, mas "Succession" perde parte do que tem de melhor –o humor que o ator britânico Brian Cox acrescentou ao personagem.

Brian Cox em cena 'Succession' - Divulgação/HBO


Fã de "Sopranos" e de "Six Feet Under" (A Sete Palmos), Armstrong sempre tratou a guerra pelo comando do império de mídia da família Roy como um evento tragicômico. Graças ao talento de Cox, foi possível entender que Logan era um canalha vocacionado, muito mais perto de Livia Soprano do que do rei Lear.

Sempre agiu em nome dos negócios, mas é impossível não enxergar o prazer que também tinha praticando maldades, humilhando subordinados ou manipulando os filhos.

Outros quatro personagens ajudam a manter "Succession" com um pé firme na sátira, esvaziando parte do tom de denúncia que parece óbvio na série.

Roman Roy, um dos filhos de Logan, vivido por Kieran Culkin, é o personagem mais desconcertante. É um tipo da pior espécie, mas exagerado e engraçado como uma vilã de novela das 9 da Globo. Já seu meio-irmão, o ingênuo e aloprado Connor (papel de Alan Ruck), nos diverte com delírios de grandeza que lembram um candidato presidencial do Novo.

Tom, brilhantemente interpretado por Matthew Macfadyen, é o arrivista profissional. Sem vergonha alguma de bajular os Roy, ele se casa com a filha de Logan e se oferece como um tapete para o patriarca pisar. Ao mesmo tempo, se vinga das humilhações espicaçando o engraçado Greg, vivido por Nicholas Braun, que é neto do irmão de Logan.

Agora sem Logan, mas ainda com essa gangue masculina, formada por Roman, Connor, Tom e Greg, "Succession" tem a missão de continuar nos divertindo pelos próximos sete domingos. A julgar pelo que mostrou até aqui, tem tudo para conseguir.

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