Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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De olho no passado para enfrentar o futuro

Fantástico, 'Criança Esperança' e Xuxa ajudam a Globo a fortalecer a TV aberta e o streaming

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É notável como a Globo tem usado a nostalgia como uma forma de ocupar espaço no presente e se preparar para o futuro da televisão. A extensa e caprichada comemoração dos 50 anos do Fantástico diz muito sobre este momento.

O mesmo pode-se falar do investimento feito nesta segunda-feira na transmissão do "Criança Esperança", um programa musical de 81 minutos ao vivo, como a emissora fez muitas vezes no passado. Foi um triunfo de técnica e qualidade artística, para não falar de repercussão nas redes sociais.

Xuxa, Angélica e Eliana sobem ao palco do 'Criança Esperança' - Victor Chapetta - 7.ago.2023/AgNews


Também se nota o apelo à nostalgia na oferta, em sua plataforma de streaming, de toneladas de novelas das décadas de 1980 e 1990 e, mais recentemente, de uma série documental altamente elogiosa dedicada a Xuxa Meneghel. Segundo o executivo Erick Bretas, esse novo programa foi o documentário mais visto pelo Globoplay desde que a empresa começou a investir no gênero.

Não custa lembrar que, ao ser dispensada pela Globo, em 2014, após quase 30 anos de contrato, Xuxa estava registrando números baixos de audiência e parecia ter perdido o encanto. Após uma temporada de cinco anos na Record, a apresentadora foi redescoberta pela emissora carioca.

Ainda que esteja paulatinamente perdendo terreno, a TV aberta, num país como o Brasil, ainda é uma plataforma de comunicação essencial e onipresente. Com mais audiência diária do que todas as suas concorrentes somadas, a Globo segue nadando de braçada.

Essa posição explica uma curiosa campanha institucional da emissora, recentemente levada ao ar. Os anúncios, exibidos na TV aberta, ensinam ao espectador, de maneira didática, que ele pode assistir à programação da Globo, de graça, na plataforma de streaming do grupo.

A possibilidade de "simulcast" (transmissão instantânea) sempre existiu nos principais centros urbanos, desde o lançamento do Globoplay, em 2015, mas só final do ano passado, na Copa do Qatar, se tornou disponível em todo o Brasil. A campanha pode ajudar a turbinar o número de usuários (não necessariamente assinantes) da plataforma. Também parece uma tentativa de fazer o espectador da TV aberta visitar o aplicativo online e, quem sabe, contratar uma assinatura paga.

Jogadores do Croácia comemoram vitória sobre o Brasil na Copa de 2022 - Pedro Martins/Agif

Para festejar o Fantástico, a emissora encomendou cinco documentários, um relativo a cada década do seu programa dominical, nascido em agosto de 1973. O primeiro especial, com 45 minutos de duração, foi exibido no domingo passado, e os demais vão ao ar nas próximas semanas.

A maior atração, ao menos do ponto de vista do impacto sobre o público, foi o uso de inteligência artificial para a recriação de situações e figuras marcantes do passado, como Chico Anysio e Sandra Brea. Como mostrou o filme, dirigido por Bruno Della Latta, as imagens do primeiro Fantástico se perderam num incêndio em 1976.

Líder de audiência em praticamente toda a sua história, o Fantástico é o que se convencionou chamar de uma revista eletrônica semanal, com uma fórmula simples, na aparência, enunciada assim por Boni: "um painel reunindo tudo que havia de melhor na Rede Globo".

Em sua biografia, publicada em 2011, o mais importante executivo da história da Globo afirma que o Fantástico foi o primeiro programa deste gênero no mundo. "E ainda há lugar para um grande programa, com formato de magazine, na televisão brasileira", profetizou Boni.

Investindo hoje mais em jornalismo e menos em entretenimento e humor, o Fantástico deturpou, em alguma medida, a fórmula original. A aposta em reportagem sinaliza o esforço em preservar a relevância do programa e, naturalmente, da própria emissora. Esse é o segredo para manter viva a TV aberta.

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