Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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Descrição de chapéu inflação

Discriminação de classe social é a maior?

Combinação de uma camisa polo com um sapatênis pode cancelar um indivíduo antes mesmo de ele abrir a boca

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Preconceitos fazem parte do ser humano. É muito fácil e até mesmo prático emitir uma opinião em relação a determinado grupo social baseada em inferências pessoais e sem um embasamento aprofundado ou reflexão crítica.

No que se refere a classe social, alguns ricos acreditam que pobres são preguiçosos, que favelas são lugares dominados por bandidos, que música da periferia é degradação da nossa cultura, que empregada doméstica não deveria viajar de avião e filho de porteiro não devia ir para a faculdade.

Porém, muitas pessoas de origem desfavorecida não ficam atrás quando o assunto é preconceito. A combinação de uma camisa polo com um sapatênis pode cancelar um indivíduo antes mesmo de ele abrir a boca.

Parte dos preconceitos nascem do fato de não existir maior interação entre os diferentes grupos populacionais. A sociedade brasileira é dividida e existe um mecanismo que contribui para acentuar a profunda segregação social: a discriminação de preços.

É fácil imaginar, por exemplo, dois estabelecimentos comerciais, operando na mesma rua, com produtos idênticos, mas com públicos bem diferentes. Aquele que tiver preços mais altos acaba excluindo a população de baixa renda.

Nesse cenário, na perspectiva de muitos ricos, são vários os motivos que os levam a pagar mais caro por determinado produto. Além do prazer que alguns sentem em demonstrar o seu status social nas relações cotidianas, também existe o desejo de ter contato com um público mais selecionado.

Dada a profunda desigualdade do país, é fácil notar que diversos espaços são ocupados por uma parcela muito pequena da população. Enquanto os 10% mais ricos terão acesso a bens e serviços que os demais cidadãos possivelmente não terão, existem privilégios de que somente os 1% mais ricos desfrutarão.

A renda de um indivíduo dirá não somente os lugares que ele poderá frequentar, como também a receptividade que terá. Nos degraus da pirâmide social, os que estão embaixo tendem a ocupar funções inferiores aos que estão nos degraus acima e, muitas vezes, são percebidos por estes como seres humanos de menor valor e não dignos dos mesmos direitos. Deste modo, a discriminação gerada pela posição social possui potencial de afetar o maior percentual da sociedade.

Nesse contexto, os negros, que representam 56% dos brasileiros, tendem a ser duplamente afetados. Existe um claro legado da escravidão pelas favelas do país. Anos de domínio dos brancos sobre os compatriotas negros criaram um imenso abismo social.

Assim, além de enfrentar uma possível discriminação relacionada à posição social, os negros também lidam diariamente com potenciais manifestações do racismo que, em grande parte, são veladas.

No que se refere à discriminação que afeta as mulheres, que representam em torno de 52% da população, deve-se lembrar que uma fração desse percentual também sofre com a discriminação de classe e a racial.

Em tal cenário, em determinados contextos, é comum ver mulheres brancas de alta renda chamando a atenção para a falta de representatividade feminina em alguns espaços. Entretanto, na hora indicar candidatas, elas se esquecem que nesses lugares não existe nenhuma mulher negra ou pessoa com uma origem social desfavorecida.

Avançar na agenda de equidade de gênero é fundamental. Assim como é importante garantir melhores oportunidades de inclusão para a população de baixa renda e negros. Sem isso, o avanço das mulheres brancas de alta renda pode amplificar as desigualdades existentes. Visto que, no final, uma proporção considerável delas acabam casando-se com pessoas brancas de renda elevada, podendo aumentar, assim, a disparidade da renda domiciliar per capita entre os grupos sociais.

O texto é uma homenagem à música Zumbi, de Jorge Ben Jor.

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