Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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Descrição de chapéu machismo mercado de trabalho

Fecundidade é um dos primeiros passos para o desenvolvimento

Avançar na educação em lugares periféricos tem impacto na fecundidade

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Na década de 1960, Gary Becker, Prêmio Nobel em Economia, e outros pesquisadores popularizaram um modelo teórico para pensar a interação ao longo do tempo entre a fecundidade e os avanços econômicos.

A ideia por de trás da abordagem é simples. O retorno da educação tende a se elevar à medida que os países crescem. Com isso, as famílias passam a ter menos filhos e procuram investir mais em suas formações. Elas optam por diminuir a quantidade enquanto melhora a "qualidade" de seus descendentes.

O crescimento econômico também tende a ampliar a participação feminina no mercado de trabalho. O custo do tempo aumenta, colocando, assim, maiores dúvidas em relação a usá-lo na constituição de uma família ou focar o desenvolvimento da carreira.

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Pessoa busca restos de comida no lixo no Rio de Janeiro - Tércio Teixeira - 5.abr.2021/Folhapress

Cuidar de crianças passa a ser algo cada vez mais caro. Tal contexto faz com que várias pessoas com maior nível de escolaridade e renda passem a ter menos descendentes do que gostariam. Muitos adiam a decisão de ter filhos ou, simplesmente, não os têm.

Esse cenário é bem diferente na outra ponta da distribuição de renda. As mulheres pobres e menos escolarizadas costumam experimentar a maternidade relativamente jovens e acabam tendo, em média, mais filhos do que aquelas que têm maior escolaridade.

Cada criança adicional nascida em um ambiente de baixa renda tende a afetar negativamente a probabilidade de todos os membros da família atingirem melhores condições de vida. Além disso, aumenta-se a demanda por gastos do governo em políticas que, em muitos casos, suavizarão a pobreza, mas serão ineficazes em gerar mobilidade social.

Nesse âmbito, existe um conjunto de medidas que poderiam ser adotadas para reverter tal processo que acentua as desigualdades intergeracionais. No caso das mulheres mais escolarizadas, a economia prosperará se os gestores públicos contribuírem para que elas possam combinar carreira e família. Para isso, as normas sociais e as políticas precisam progredir.

Nos anos recentes, as mulheres passaram a ter mais filhos naqueles países em que os homens começaram a assumir maiores responsabilidades nos cuidados das crianças e houve ampliação das políticas de apoio as famílias.

Em relação aos mais pobres, é necessário ampliar a oferta de métodos contraceptivos modernos e avançar na desburocratização do acesso a vasectomia e laqueadura. No caso brasileiro, país marcado pela gravidez indesejada, principalmente, entre mulheres jovens e desfavorecidas, não é raro o caso daquelas que tiveram outros filhos enquanto estavam tentando conseguir se tornarem aptas para a realização da laqueadura.

Avançar na educação em lugares periféricos também tem impacto na fecundidade. Vários estudos empíricos atestam isso. Frequentar uma escola de qualidade representa para os estudantes pobres uma forma de descobrir possibilidades que muitos pais de origem desfavorecidas não imaginaram para seus filhos.

Diante do novo governo, diversas propostas e políticas serão discutidas. Entretanto, não se deve esquecer que muitas famílias com boas condições socioeconômicas estão tendo menos filhos do que gostariam, enquanto aquelas mais vulneráveis acabam gerando um elevado número de gravidezes não desejadas.

Mudar o perfil reprodutivo da sociedade representa alterar a composição da população ao longo do tempo. É um dos primeiros passos para que mais brasileiros nasçam em condições minimamente favoráveis para o desenvolvimento de suas potencialidades.

O texto é uma homenagem à música "Maria, Maria", de Fernando Brant e Milton Nascimento.

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